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Fevereiro, 2012
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diazinho oficialzinho

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Hoje é o diazinho oficialzinho dos namoradinhos. Juntam-se todinhos, trocam mensagenzinhas a dizer que se amam muitinho e que querem ficar juntinhos para todo o semprinho. Está escrito nas entrelinhas de todas estas lamechices. Hoje é o dia dos inhos e das inhasBeijinho para aqui, queridinha para ali.

Eu até gosto destas confissões de amor terminadas com mil asteriscos no final das mensagens, mas tem de ser todos os dias. Sim, tem de ser porque o amor (ou o amorzinho para os adeptos ferrenhos deste dia) não é feito apenas de 24 horas a meio do mês de Fevereiro. O amor, se é que existe, não é mais que olheiras de sono e de choro, copos vazios, camas desfeitas e dores de barriga. O amor não é feito num dia cujo santo padroeiro é um Valentim. Se fosse mesmo amor, o santo deveria chamar-se Valente. Deveria ser o dia de São Valente, e não São Valentim.

A partir do momento em que se tem contacto com o amor, a pessoa fica completamente desprotegida para o resto da vida. Qualquer olhar mais demorado numa mesa de café ou um sorriso mais provocador numa loja de roupa atira-nos imediatamente para o chão, sem qualquer cadeira onde nos possamos sentar e, pior que isso, nus, à vista descartada de qualquer transeunte desgovernado.

Como o Miguel Esteves Cardoso escreveu, “as pessoas haviam de encontrar o grande amor das suas vidas só quando fossem velhas. É sempre melhor viver antes da felicidade do que depois dela”. E é bem verdade, a felicidade só vem atrapalhar a nossa vida. Faz-nos andar com sorrisos parvos todo o dia, aceitar todos os atrasos do autocarro que nos leva para o trabalho todos os dias, compreender todos os problemas de todos os taxistas de todas as cidades, sorrir e dar dois euros a um mendigo que nos roga uma praga qualquer terminada em “Deus Nosso Senhor”, e por aí fora… A felicidade é uma anestesia que nos alucina de tal forma que não conseguimos encontrar uma rua suja, um empregado das finanças antipático ou um político corrupto.

Por outro lado, viver sem qualquer felicidade também chateia. Nem que seja aquela felicidade de ver o Aimar a fintar meia equipa e a meter a bola no fundo da baliza. Ou a outra felicidade de dar uma gargalhada de 20 minutos sem ninguém ter contado uma anedota.

São felicidades relativas, ao contrário do amor, que não acontece num só dia e não deve ser relativizado por programas de televisão com balões em forma de coração. O amor é absoluto e impossível de alcançar. Apetece-me mesmo dizer o título de um livro do Miguel Esteves Cardoso, mas não digo. Fica nas entrelinhas.

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a nossa piegas condição

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O nosso primeiro-ministro pediu aos portugueses para serem “menos piegas”. Que idiotice! Um pedido destes é tão ridículo quanto uma ordem de fuzilamento. Diminuir a nossa pieguice é um acto homicida. Enquanto portugueses, temos o direito – e, até mesmo, o dever – de defender esta nossa condição.

De norte a sul do país, do interior ao litoral, passando pelas ilhas, todos nós somos piegas. Ora porque não temos dinheiro, ora porque nos dói as costas, ora porque está sol, ora porque chove. Do que precisamos é de uma mão no ombro, de um simples aceno com a cabeça e de um leitinho quente. Do que precisamos é de mimo. O nosso nível de pieguice é equivalente ao nível de necessidade de mimo. Não vamos lá só com ordens. Não há solução. Está-nos no sangue. Nós somos piegas e gostamos de o ser. Adoramos chorar, suspirar, bradar aos céus… No fundo, só queremos atenção.

Podemos não ser os únicos a chorar a nossa tristeza, mas somos, certamente, os únicos a chorar a nossa felicidade. Até uma boa notícia merece um olhar atento sobre o seu lado mais triste. Porque, para nós, todas as coisas comportam tristeza. Ora mais, ora menos, mas ela está sempre lá. E, agarrada a ela, a pieguice. Mesmo quando está longe de aparecer, numa festa de reencontro de velhos amigos ou num jogo de futebol em que já festejamos o quarto golo, há ali um certo momento em que paramos e “alto lá, não deveria estar assim tão contente”. E voltamos a colocar de lado os sorrisos do momento e desatamos a carpir mágoas por já não podermos viver as histórias que recordamos ou por aquele golo não ser mais do que uma bola a entrar na baliza. Atiramo-nos para o chão agarrados à perna e, num excruciante esgar de dor, levantamos o braço para o árbitro, pedimos falta, dizemos que nos dói muito e esperamos pelo som do apito. Paramos para o ouvir, mas ele demora e nós temos que sair do chão. Para isso, não nos basta chorar sozinhos. Precisamos de chorar acompanhados por alguém que nos meta a mão no ombro e nos estenda um leitinho quente. Tal como nós gostamos.

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