o gatilho para a crença
A morte é o gatilho
para a crença,
deus é o segredo
(apenas existe no medo),
nós somos a doença.
solidão, dá a patinha
não fala e, não falando,
não nos pode aconchegar
a dor de o ver partir,
não nos pode dizer
o que nos sente
porque, simplesmente,
não fala,
cala
e nós aqui a sentir
a dor de outras palavras
que julgamos ouvir
dos olhos que nos falam a ganir
e nos fazem chorar por ver os seus,
a vida volta a ser coisa sozinha,
solidão, dá a patinha
senta, deita… adeus.
longe coração
Quando os amores estão longe, os corações estão longe também. Quando eu estou longe dela, quando ela está longe de mim, os nossos corações estão longe também.
Mas não é o meu coração, comigo, que está longe do coração dela, com ela. Não. O meu coração está longe de mim, do meu corpo, da minha razão, e o coração dela está longe dela, do seu corpo, da sua razão. Estando os nossos corações longe de nós próprios, embora perto de mim e dela (comigo e com ela), torna-se difícil suportar esta coisa que é viver de coração afastado (o meu) e de coração forasteiro (o dela). Porque, nesse momento, fugaz ou eterno, não somos nós que mandamos no nosso coração. Ele está longe, perto dela (com ela). É ela que o comanda. Tal como o dela está perto de mim (comigo) e sou eu que bem decido o que lhe fazer.
O problema é que nem eu nem ela sabemos lidar com corações que não os nossos. Ninguém sabe. E esta incapacidade para lidar com corações alheios provoca trapalhadas, sonhos, ansiedades, ilusões, borboletas, pedras, palavras, filmes, lágrimas, cabeças no ar, loucuras. Ou, noutras palavras que é só uma, amor. O amor não é o meu coração a bater no meu peito, é o meu coração a bater no peito dela.