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Março, 2017
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o amor não é arte

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Ser criativo é lindo para a arte e uma merda para o amor.

No amor, criamos mais do que existe e menos do que é. Criamos bocas que a beijam e corpos que a fodem. Criamos enredos de traições. Criamos pensamentos nos pensamentos dela, dando de comer aos nossos medos que estão sempre ali, de mão estendida, à nossa espera, de mão cheia durante, de mão beijada depois.

Criamos pesadelos, matamos sonhos à nascença e fazemos respiração boca a boca às angústias e às ansiedades que nos renascem nas veias e naquele tic-tac furioso do coração.

A maravilhosa arte de criar é uma porta escancarada para o infinito, e o infinito tem muito de escuridão. Nisto do coração, tudo o que não deve ser criado é tudo o que acabamos, nunca acabando, por criar.

Ser criativo é lindo para a arte e uma merda para o amor. Porque o amor não é arte, porque só há arte no amor.

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além da vida

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O que existe além da vida? Não além da vida em si, que é a morte e a morte é nada. Mas o que existe além da vida das pessoas que eu vejo? Esta gente que está à minha volta mostra-me a sua vida e eu não sei o que há além dela. O que há? O que pensa? O que a faz sorrir? O que a faz pensar? O que bebe? Como reage a determinado filme? Chora ao ouvir esta música? Que vida tem esta gente toda que se aglomera em aleatório à minha volta?

Sempre que me distraio, não estou distraído. Estou a imaginar essa vida de cada pessoa. Imagino-lhe uma história, uma família, um cão ou um gato ou um jacaré, um homicídio, um casamento, uma forma de falar e uma dor ou alegria ou ausência totais. Sair desta vida que é minha para imaginar a vida de outra gente além da vida que lhes vejo é viver várias vezes. Que maravilha. Não é isso o bonito da vida? Viver várias vezes? Várias vidas?

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o ser de ser pai

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Simples palavra de homem que faz,
homem que lavra a palavra que traz.
Sangue nascido de punho cerrado,
ventre perdido de ser encontrado.
Corpo maduro de vida na mão,
leito seguro do novo embrião.
Sonhos cercados de sonhos na terra,
olhos chorados de balas na guerra.
Voz que ameaça, birra que passa.
Criança que chora, por dentro e por fora.
O riso demora, mas volta mais puro,
e o riso de agora é o som do futuro.
Homem, menino, velho, criança,
ferro do fel, fiel da balança.
Filho que é e não deixa de ser,
feto parido do ai da mulher.
Braço que embala o berço da cama,
voz que serena a voz que o chama.
Aparência da força que deve sentir,
decência que tem quando a tem que despir.
Início de tudo, semente de vida,
grito de mudo, de voz destemida.
Gestos de bruto, de tudo o que tem,
cabeça de puto, coração de mãe.
Hoje, amanhã, tudo o que for,
noite, manhã, único amor.
Silêncio que fica, palavra que vai,
o ser de sentir, o ser de ser pai.

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arguido

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Não me peçam conselhos de amor. Sou a pior pessoa do mundo inteiro a quem se possa pedir coisas dessas relacionados com essa coisa. Nunca digo não digas, não vás, não escrevas, não beijes. Nunca. Digo sempre sim, sim, sim, sim. Se isto da vida for tribunal e isto do amor for arguido, eu sou o seu advogado de defesa, mesmo sabendo que defendo esta coisa sem defesa possível, que nos destrói as defesas todas, dizimando-nos por dentro e escangalhando-nos por fora. Não me peçam conselhos de amor, que eu sou sempre a favor do amor. Pode não haver solução possível, quase sempre não há, que eu atiro-me de corpo inteiro, que envolve a alma, dou mortal encarpado, cuspo fogo e mergulho nesta coisa do amor. Mas tu escreves sobre o amor, André. Escrevo, por isso é que não sei nada sobre ele, eu só escrevo sobre o que não sei e só escrevo muito sobre aquilo que não sei absolutamente nada. Nem quero saber, que isto do amor não tem sabedorias. É amar e pronto, o resto é morte.

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