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Janeiro, 2020
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isto anda tudo ligado

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O Link Building apresenta-se como fundamental, uma vez que apresenta ao utilizador outras fontes de informação, igualmente confiáveis, com conteúdos complementares e relevantes, face à pesquisa que efectuou.

O que é o Link Building?

Boa pergunta! Link Building é, resumidamente, o que nós estamos a fazer agora. Ou seja, é a arte de conseguir atrair links para um determinado site, blog ou página de conteúdo.

Quer dizer, o que acabámos de fazer não foi bem arte e também não pode ser considerado, em abono da verdade, Link Building puro, porque não foi assim tão estruturado. Por exemplo, neste parágrafo, só temos links externos e nenhum interno. Mas já lá vamos.

Como fazer Link Building?

Há muitas formas de fazer Link Building. No entanto, nem todas são boas. Como referência no Marketing Digital que somos, vamos apresentar-lhe, apenas, as boas. Aliás, as melhores.

Há duas características essenciais a qualquer boa estratégia de Link Building:

  1. Links de qualidade: são os links “naturais”, relevantes para quem linka e para quem é linkado. Os maus links podem colocar o site num mau posicionamento perante os motores de busca.
     
  2. Bom conteúdo: conteúdo, conteúdo, conteúdo. A conversa é sempre a mesma. Um bom conteúdo faz com que o seu site seja mais vezes linkado. Conteúdo bom, conteúdo relevante, conteúdo que suscite partilhas.

Tendo estes dois pontos sempre presentes, o Link Building estará sempre mais próximo do sucesso. Depois, obviamente, os links apresentados terão de apresentar algumas características mais específicas, como:

  1. Utilizar links internos e links externos (com texto âncora – o texto que contém o link apontando para o seu site ou para uma página do seu site, imagens e outros tipos de links);
  2. Obter links de sites relevantes – os chamados backlinks;
  3. Guest posts: os artigos de convidados são essenciais para gerar links orgânicos;
  4. Divulgar conteúdos nas redes sociais;
  5. Não ter links quebrados – links incorrectos ou com ligações para páginas inexistentes;
  6. Não comprar links – o Google topa que há um padrão suspeita e prejudica o posicionamento;
  7. Privilegiar uma estratégia integrada de SEO.

Eis o que acontece na complexa mente do Google: ele olha para um site e avalia a sua reputação e autoridade pelos links que ele recebe. A existência de links faz com que haja uma relação entre páginas, funcionando como uma espécie de “voto de confiança”. Fazer um link para outra página é dizer ao seu leitor que tem confiança naquela página. Os bons links são o motor do SEO.

Qual a importância do Link Building para SEO? 

O Link Building é essencial para que os motores de pesquisa vejam o seu conteúdo como mais relevante, levando-o a um melhor posicionamento nos resultados orgânicos de pesquisa. E aqui volta a entrar o nosso querido SEO (Search Engine Optimization). Uma estruturada estratégia de SEO tem de comportar um bom modelo de Link Building.

O utilizador tem sempre de encontrar a informação que procura. Esta frase está emoldurada na mesinha de cabeceira do Google.

Como conseguir backlinks de qualidade?

Os backlinks são links que direccionam directamente para qualquer página do seu site a partir de outro domínio – backlinking. O objectivo é o de expandir o conhecimento do leitor e, em simultâneo, gerar tráfego de qualidade para o seu site ou blog.

Os Backlinks são muito importantes para SEO porque alguns motores de pesquisa, especialmente o Google, dão mais crédito a sites que têm um bom número de backlinks de qualidade (com elevado grau de relevância), considerando o seu conteúdo mais importante do que outros nas páginas de resultados.

Estratégias de Link Building – cá dentro e lá fora

Link Building interno

O Link Building interno não é mais do que o processo de linkar para páginas dentro do seu site. Este processo é bastante recomendado e valioso, levando a uma navegação interna relevante.

Link Building externo

Linkar para outros sites não prejudica em nada o seu próprio site. Pelo contrário. O algoritmo dos motores de pesquisa tem em consideração a linkagem externa, atribuindo-lhe relevância e, também, autoridade.

Portanto, muito resumidamente, não se esqueça: links internoslinks externos e conteúdo, conteúdo, conteúdo. A conversa é sempre a mesma. Os resultados também, os melhores.

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a senhora que demora

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Os meus primeiros brinquedos foram comprados aqui. Não sei se era esta a senhora que atendia a minha tia Nhanha, a tia que me mimava a infância, mas era aqui, nesta papelaria, que os meus primeiros brinquedos ganhavam dono.

Esta senhora seria a mesma, hoje parece ter sido mesmo. Ternurenta, lá de cima e lá de dentro, pelo sotaque com que diz bom dia, cá estamos, graças a deus e obrigado, esta senhora não sai dali porque é ali que ela é. Saindo, deixa de ser, e até o espaço deixa de estar. Acompanhada, muitas vezes, por outra senhora, mais nova mas mais antiga, esta, mais velha mas mais agora, recebe cada cliente de braços abertos no olhar.

Passa os dias à espera que entre alguém e há sempre alguém que passa e que não entra. Entre cadernos, peluches, jornais e porta-chaves, ela existe na demora do tempo que passa, na lentidão dos dias, na espuma das horas. Sempre que lá entro, entro só por entrar. Só quero sentir dentro a alegria de voltar a brincar.

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não foram monstros

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Não foram monstros, foram pessoas como nós, iguaizinhas a nós, que estiveram de um lado e do outro, que torturaram e que sofreram, que mandaram e que obedeceram, que mataram e que morreram. Tinham cabeça, troncos, braços, pernas, coração, fígado, pulmões, pele, músculos, nervos, água, oxigénio, hidrogénio, nitrogénio e carbono. Seres humanos, de um lado e de outro. Nazis e judeus, nazis e ciganos, nazis e homossexuais, nazis e deficientes. Nazis e todos os outros. Todos os outros e nazis. Seres humanos, não monstros. Não seres de outro mundo, inumanos, Pessoas como nós, iguaizinhas a nós. Faz hoje 75 anos que o campo de Auschwitz foi libertado. Não foi assim há tanto tempo. Não está assim tão longe. Está sempre na iminência do retorno pelo simples facto de continuar a existir a única causa do horror: seres humanos, pessoas como nós, iguaizinhas a nós.

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manhã

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Não é por ser domingo. É por ser manhã. Poderia ser qualquer outro dia, segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado ou infinito, que seria sempre por ser manhã. E manhã é sempre recomeço, e recomeço é sempre alerta, e alerta é sempre cavalos a galopar no peito. É o recomeço do tic-tac tic-tac tic-tac acelerado do tempo, é o alerta do pensamento atrás de pensamento atrás de pensamento atrás de pensamento, são os cavalos da luta, da falha e do fracasso. Não é por ser domingo. É por ser, simplesmente. Poderia ser qualquer outra coisa. Seria sempre.

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feito até ao fim

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Perfeito, em latim, significa “feito até ao fim”. Eu não sou perfeito, tenho muito por ser acabado, ainda. Na verdade, nem eu nem ninguém nem nada seremos, alguma vez acabados, feitos até ao fim. Nada está concluído, tudo está em mudança. Nem as almas, nem as pedras, nem as nuvens, nem os cadáveres. Tudo muda, tudo mexe, tudo está em transformação para outra coisa que não a que é, nada está feito até ao fim, fechado, embrulhado, ensacado e pronto a enviar para o código postal da Plenitude. Morada não encontrada, remeter ao destinatário. André Pereira, Rua Incompleta, 1500-370 Coração.

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1984

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“Era um dia claro e frio de Abril, nos relógios batiam as treze. Winston Smith, queixo aninhado no peito, num esforço para se proteger do malvado vento, esgueirou-se depressa por entre as portas de vidro das Mansões Vitória, não tão depressa, porém, que não encontrasse com ele um turbilhão de poeira arenosa”.

George Orwell

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um desfile de modas

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Imagine que o Ângelo Rodrigues e o Cameron Boyce vão ver um jogo do Flamengo e que, durante o jogo, têm algumas dúvidas, como o que é uma convulsão ou como saber onde votar. No final, vão para casa ver um episódio de Game of Thrones.

Sabe o que é isto? Além de um cenário impossível, porque o Cameron Boyce já não pode ir a jogos, é um cenário que reúne os termos mais pesquisados em Portugal, no ano passado. E como é que nós sabemos isto? Google Trends. O Google sabe tudo!

O que é o Google Trends?

O Google Trends é uma espécie de Deus, nascido em 2006, que sabe tudo aquilo que nós procuramos, quando procuramos e com que regularidade procuramos. Portanto, muito cuidadinho com aquilo que procura. Que é como quem diz numa linguagem mais modernaça: muito cuidadinho com o Google trending.

Sendo mais técnicos na definição, o Google Trends (trends = tendências, em inglês) é uma ferramenta do Google que acompanha a evolução do número de pesquisas por uma determinada keyword ao longo do tempo.

Com esta ferramenta, pode ver com que frequência determinada keyword foi pesquisada em determinado espaço temporal. Também pode comparar o volume de pesquisas entre duas ou mais condições.

Segundo dados da Google Trends, são realizadas cerca de 100 mil milhões consultas por mês

É possível apurar a pesquisa por critérios de país (Portugal, Estados Unidos, Egipto…), tempo (últimas duas semanas, último ano, últimos 10 anos…), categoria (Futebol, Música, Política Internacional…) e tipo de pesquisa (imagens, notícias, compras…).

Para que serve o Google Trends?

O Google Trends pode ser usado apenas para satisfazer a simples curiosidade de quem anda pela net, no entanto, pode ser bastante útil para muita gente, em particular, para empresas do admirável mundo do marketing digital:

  1. Saber as Tendências
    Muito importante para mostrar as tendências relacionadas com determinada área ou negócio. Assim, sabe qual a onda que o público está a surfar no momento. Isto é extremamente útil para apresentar conteúdos que vão de encontro aos desejos/pesquisas das pessoas.
     
  2. Conteúdo 
    Aqui está, uma vez mais, o Conteúdo, um ponto essencial no Marketing Digital. Mostrando os termos mais pesquisados pelas pessoas, o Google Trends apresenta-se essencial para a criação de conteúdo e SEO.
     
  3. Comparação de Termos 
    Imagine que está a criar um artigo ou uma ação de marketing e não sabe se deve usar um termo ou outro: cão ou cachorro? Keyword ou palavra-chave? Saiba qual o termo que vale mais a pena usar.

Como utilizar o Google Trends?

É muito fácil. Tem onde apontar a morada? Ora bem, então aqui está: Google Trends. Agora, é explorar.

Na primeira página, por exemplo, encontra os temas que têm sido mais discutidos na Internet. Pode, também, pesquisar por termo ou ver os destaques.

Se quer estar a par do que se passa no mundo constantemente, então sugerimos que se inscreva no Google Trends e assine a newsletter. Acredite que se tornará numa ferramenta importante no seu dia-a-dia.

Google Trends Portugal | Quais as palavras mais procuradas no Google?

Aqui tem uma lista das palavras mais pesquisadas no Google, em Portugal, no último ano:

Ainda está a imaginar o Ângelo Rodrigues a ver um jogo do Flamengo com o Cameron Boyce enquanto tiram algumas dúvidas como o que é uma convulsão ou como saber onde votar, sendo que, depois, ainda vão ver um episódio de Game of Thrones?

Pois bem, este cenário agora não faz sentido. Hoje, 23 de Janeiro de 2020, o que faz sentido é ter o Robert de Niro e o Delonte West a verem um jogo do Canelas enquanto um estuda as Tabelas IRS 2020 e o outro se informa um bocadinho mais sobre o Coronavírus e o NOS Alive. Enfim, modas.

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o peso da vida

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Não é o meu peso. É o peso da vida comigo nela. Eu sou leve como um ser humano minúsculo neste mundo ínfimo neste universo infinito deve ser. Mas, perante a vida, perante a vida real, ganho um peso maciço que não é o meu. É o peso da vida, que é o peso das responsabilidades, o peso das decisões, o peso dos medos, o peso dos outros. E todos estes pesos, que não são meus, que são da vida, toldam-me os movimentos, amarram-me os braços e, tantas vezes, os desejos.

O peso da vida é-nos mais pesado conforme vamos crescendo, creio eu. Quando eu era criança, o peso da minha vida resumia-se ao medo da cama e à ansiedade para completar a caderneta do Mundial 94. Hoje, o peso da vida é-me pesado no trabalho, no amor, nos sonhos, na solidão e no futuro. No salário, nas contas para pagar ao final do mês, na formação de família, na mudança de casa, na criação de um espectáculo, na escrita de um livro, na reedição de outro, no aperfeiçoamento de um projecto, na urgência do tempo, na certeza de estar tudo certo.

Hoje, mais do que em qualquer altura da minha vida, creio eu, o peso da vida é-me asfixiante. E eu, sendo leve, voo, pesado, para a terapia, para o yoga, para apps de meditação, para o escitalopram e até para a astrologia. Só queria voar para mim mesmo, que é lá que está o que realmente importa, leve.

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cem anos de solidão

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“Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencionálas se precisava apontar com o dedo”.

Gabriel García Márquez

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ta, ma, sa

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Caralho ta foda, Caralhos ma fodam, Que sa foda. Quando estamos irritados, falamos mal, embora bem, português. Nunca dizemos Caralho te foda, Caralhos me fodam nem Que se foda. Dizer bem o se, o te e o me, nestes casos, seria desrespeitar a irritação que sentimos. E não é certo desrespeitar o que quer que seja. Falar mal, nestes casos, é falar bem. Está gramaticalmente errado? Que sa foda.

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não era fado-canção II

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Um tirinho até ao fim. Vão-se os sonhos e as danças, já não há rosa nem algodão, e as crianças só nas lembranças daquilo que lhes resta do coração. Já não há “beija, beija”, há “trabalha, trabalha, paga, paga”, e tudo não passa de tralha que se acumula e estraga na ida e volta do cacilheiro, e tudo parece metade porque, na verdade, nada é inteiro. Ele trabalhava, ela trabalhava, e a vida andava como deus queria (assumindo que deus existe além da eucaristia). Trabalho-casa, casa-trabalho, e o ganha-pão ganhava-migalha. No chão, um cão e um pirralho. Nos pratos, palha. “Mas tudo melhora”, dizia ele. “Vou lá fora fumar”. Ele não fuma, chora, ele estava a chorar. E ela, à panela, via a novela entre aventais. Ele voltava e ainda fumava, não fumava, chorava cada vez mais. Ele homem, ela mulher, um cão e um filho. Tudo perfeito, família, dinheiro, alegria. Só faltava premir o gatilho. Perfeição? Não, ironia. Ilusões desfeitas aos trambolhões assim que viram que a cidade, afinal, não lhes dava sanidade, pelo menos, mental. Mas era melhor viver doente, lutando, do que voltar ao antigamente, desistindo. “Cá ando”, dizia ela, “resistindo”. Estrangeiro? Talvez fosse solução, mas não havia dinheiro nem para pôr na boca de um cego uma canção. “Ai que saudades das festas e romarias, dos seus amigos que ele um dia cá deixou, porque lá fora as amizades são estranhas, há bem poucas alegrias para quem tanto trabalhou”. Não era fado-canção, era o passado do bailinho, do corridinho e do malhão.

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não era fado-canção I

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“Danças o bailinho, o corridinho e o malhão, valha ao menos isso para alegrar o coração”. Como se a noite fosse um dia inteiro. Tão lindo que era, tão puro que parecia mas, por puro que parecesse e por lindo que fosse, tinha amarrado ao coração o cabrão do fado. E tudo existia e tudo era triste e tudo era blá-blá-blá entre os pingos da chuva de uma dança, de um passo à frente, de um passo ao lado, de um sorriso que, de vez em quando, era preciso, mas que não era sorriso nem era estado. De toda a maneira, ouvia-se Dino Meira. E a felicidade, ou lá o que é essa coisa intermitente que nos sinaliza a vida, lá andava de mão em mão, de ombro em ombro, de anca em anca. Um aproximar de boca, um fugir de vinho, e ela louca, e ele, devagarinho, acompanhando a dança, e uma criança ou duas ou dezenas delas corriam pelo alcatrão, e ouviam-se beatas que tricotavam as vidas escondidas dos donos dos pés que pisavam o chão. Havia luz e escuridão, pipocas e fritos, bifanas e gritos, joões e joanas, sebastiões e anas e nomes que não rimavam, mas que eram nomes de crianças que corriam e brincavam e se escondiam na igreja e ouviam “beija, beija” e coravam e sorriam e beijavam a boca de cada um. A dela sabia a rosa e a dele, em poesia feita em prosa, sabia ao doce do algodão mas, no fundo, bem à flor dos dentes, sabiam as duas bocas às bocas pré-adolescentes com travo àquela coisa da paixão. Coisa mais linda, mais pura e mais mais que havia entre aqueles dois seres tão seres que não seriam mais.

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não sei quando nasci

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Não sei quando nasci. Fui parido no dia 7 de Janeiro de 1985, mas acho que ainda demorei uns bons anos a nascer. Não sei quantos. Não sei muita coisa. Especialmente, não sei aquilo que sei. Duvido do que sei, quero eu dizer. E também duvido de saber.

A minha mãe está amarrada a mim desde que me desamarrei dela. E isso tem tanto de bom, como o cuidado e o mimo, como de mau, como o cuidado e o mimo. A minha mãe sente e chora antes sequer de eu sentir e chorar, e sente mais e chora mais mesmo depois de eu ter sentido muito e chorado muito. O meu pai é um pilar com sentimentos mais quietos e disciplinados. O meu pai também sente e também chora, mas o que sente só diz às vezes e o que chora não mostra. O meu irmão é o meu inverso e é por isso que eu gosto tanto dele. Mais novo, é ele quem manda e quem me ensina, é ele o racional e o pragmático. O que me explica nas calmas e o que me agarra pelos colarinhos, se for preciso. Eu sou o puto emocional que chora, escreve e faz teatros. O palerma que já tinha idade para ter juízo. Mais ao largo, tenho outra gente que me quer bem e que, tantas vezes, ignoro, algumas vezes, sem querer.

Quero sempre mais do que tenho e mais do que sou, tenho ânsias e sou medricas. Amo em exagero e odeio em fúria, tanto estou nas nuvens como na lama. Tenho um horror pavoroso à morte e uma ansiedade assustadora ao dia. Não sei viver o presente e apetece-me, algumas vezes, não viver de todo. Mas finjo bem, parecendo um tipo calmo, alegre e decidido. Sou, algumas vezes, feliz, culpa, quase sempre, da arte e de um ou outro sorriso matinal. Não creio em nada, odeio o ginásio e o meu prato preferido é bolacha maria com manteiga. O meu terapeuta diz que escolher é excluir e eu dou por mim sem escolher, excluindo.

Tenho alguma esperança nas merdas, apesar de tudo. E, contra o que penso, sinto que há coisas boas por nascer. Hoje, faço 35 anos e, na verdade, ainda não sei se nasci.

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josé carlos

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, com as mãos nos bolsos e os pés em todo o lado, José Carlos desconcertava os nervos dos outros. Mas já era normal. José Carlos é que não era. Ou talvez fosse, não se sabe, é impossível saber-se. Era visto como o maluquinho da aldeia, e ganhou esse estatuto pelo simples facto de fazer as coisas de forma diferente do resto da gente. Muito diferente. Sentia uma adoração imensa por Afonso, uma adoração de amigo impossível de descrever, uma adoração de sangue do mesmo sangue, uma adoração de carne da mesma carne. Para isso, bastou não ser desprezado por Afonso, bastou que Afonso fosse o único a falar com ele sem se preocupar com o que as outras pessoas fossem pensar, fosse o único a brincar com ele sem qualquer tipo de gozo mal-intencionado, fosse o único a ouvi-lo quando ele precisava de falar, fosse o único a dar-lhe de comer, de beber e de vestir sem uma única réstia de caridadezinha achada superior, fosse o único a ser amigo dele, amigo mesmo amigo. O único. O seu nome revelava a sua maior anormalidade, a tendência para saber todos os poemas do poeta. De cor. Para ele, era sempre tarde, tão tarde, que a boca nunca tardava a dizer o que sentia, e o que sentia, dava-lhe um ar de um bando de pardal à solta, o puto, o puto. Já não era novo, mas a idade não era para ali chamada. Falava sempre em poesia, para este, para aquele e para todos os que não existiam. Inventava mundos e universos, via coisas e não via outras. Dançava nas ruas, corria que nem um louco, chorava que não era pouco. Ajoelhava-se perante qualquer mulher e dizia, meu amor, meu amor, meu nó de sofrimento, minha voz à procura do seu próprio lamento. E corria, corria, como um cavalo à solta, com um travo de sabor a laranja amarga e doce na mente, e uma coragem imensa de correr contra a ternura no corpo. Estava vestido com roupas que não lembravam ao diabo. Uma camisa de um naipe, as calças de outro. A roupa não jogava a bota com a perdigota. Mas ele pouco se importava. O mundo era-lhe imenso e ele era feliz assim. Feliz na sua tristeza tamanha de não pertencer àquele lugar, mas de não haver outro a que ele pertencesse tão bem como àquele. Tinha o seu mundo, diziam que ele era chalupa, maluquinho, louco, estroina, palerma. Diziam tudo mas, na verdade, pouco se sabia. Ele era isto, ele era aquilo. Ele era tudo o que diziam, por inveja ou negação, cabeçudo, dromedário, fogueira de exibição, teorema, corolário, poema de mão em mão, lãzudo, publicitário, malabarista, cabrão. Era tudo o que diziam, poeta castrado não. Apenas louco,

lágrima | romance – 2015

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