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Abril, 2021
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se não fico por ir

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quero sair
não sei se quero
se saio
desespero
se não
fico por ir
ficando sem saber
saindo sem querer
sendo a suar
tendo a cansar
rindo a sofrer
indo a ficar
ficando a andar
sem me mexer

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distância:mente jovem| diana

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Carolina, Edgar, Beatriz, Joana, Matilde, José, Isa, Inês, Gabriela e, hoje, Diana. Ao longo de dez semanas, falei com estes dez jovens de Leiria sobre estes tempos difíceis que estamos a atravessar. Todos eles me falaram, aliás, nos falaram sobre o que pensam e, essencialmente, o que sentem. Hoje, Diana. Uma adolescente que sorri quando fala do que sente mais falta: dançar, estar com os amigos, ir à praia e, como todos nós, estar junto de quem tem perto.

Distância:mente jovem, um podcast sobre o que está confinado na mente dos jovens leirienses.
[autoria: André Pereira | música: Ruben David Marques | entidade promotora: Câmara Municipal de Leiria]

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da ternura que não vejo

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olhar
de desprezo
sou assim
não me olho
de outra forma
que não fim
à procura
da ternura
que não vejo
em mim

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fotografia de um cravo

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A liberdade custa-me um bocadinho, dá-me opção, deixa-me escolher, e eu fico sempre sozinho na inquietação de não saber o que fazer. Escolhendo, acabo, inevitavelmente, por excluir. E não ir. Mas parece que é esse caminho excluído que eu começo a caminhar. Não vou, mas é como se tivesse ido. É ele que fica a carburar cá dentro, perguntando porquê, pensa outra vez, olha para mim, sou o que és. É quase sempre assim. Olho a possibilidade de escolher como uma obrigatoriedade de deixar morrer. É mais isto, e não tanto a liberdade como definição. De qualquer jeito, não desisto. Mesmo custando, vou lutando, sou revolução.

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distância:mente jovem| gabriela

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A Gabriela está de regresso à escola. Agora, sem ecrãs e com toque – embora controlado. Apesar de tudo o que a tem afectado, a Gabriela é feliz, dança e tem esperança de que tudo vai passar.

Distância:mente jovem, um podcast sobre o que está confinado na mente dos jovens leirienses.
[autoria: André Pereira | música: Ruben David Marques | entidade promotora: Câmara Municipal de Leiria]

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estar sem estar com ele

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Hoje não estou. Sou o que sou nos outros dias. Mas não estou. Desde que o meu primo foi, neste dia, que eu não consigo estar sem estar com ele. Se ele não está, eu não estou. Se a minha madrinha, o meu tio e a minha prima estão não estando, eu estou com eles, assim, não estando também. Só com ele, nas lembranças, quando éramos – ainda somos – crianças.

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deste nó que me é descalçar

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Não sei se é falta de tempo se de vontade mas, sempre que me descalço, tenho pressa no momento. Não sou capaz de me parar, de me sentar, de me inclinar, de me desatar deste nó que me é descalçar. Piso os calcanhares, um por um, claro está – que a impossibilidade ainda não me é permitida, chuto o que calço à baliza invisível e deixo, descalço, o calçado ao deus dará. Ao ladooo! Ao voltar, é que é tramado. Os reencontros são sempre tristes, isso é sabido. Lá está eu e o calçado, cada um para seu lado com nós por desatar. O jogo regressa, jogo perdido. Tanta pressa, tanta pressa, mas tenho sempre de parar.

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distância:mente jovem| inês

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Chama-se Inês e tem saudades de abraçar. Como tantos jovens da sua idade, voltou recentemente às aulas presenciais. Mas o confinamento ainda lhe existe dentro e, dentro, também o medo.

Distância:mente jovem, um podcast sobre o que está confinado na mente dos jovens leirienses.
[autoria: André Pereira | música: Ruben David Marques | entidade promotora: Câmara Municipal de Leiria]

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penso que sou pouca coisa

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Olho para dentro como se dentro fosse o único lugar. E dentro é como se fosse sempre o passado. Olhar para fora, para os outros, para o mundo, para o acaso, para o indefinido, é olhar para o futuro. E isso custa-me. Sinto que tenho mais atracção por dentro. Entro sempre neste processo quando são accionados gatilhos: a lembrança de qualquer lugar, a minha presença com alguém, a minha diferença (quase fraqueza) de, ao estar com os outros, não estar com ninguém. Isso faz-me sentir que estou em falha, que estou a perder tempo, que não vou encontrar, que o melhor é voltar. E, se o melhor é voltar, vamos arranjar o que está. Mas nunca há real vontade de voltar. Pelo menos, não por inteiro. É sempre a vontade de voltar a ter momentos, sentimentos que lá ficaram e que, por qualquer motivo, tenho medo de que se tenham perdido. O passado passou e parece que desapareceu. Se os sentimentos já não se sentem, é porque já não existem. Este processo de ruminação, de me olhar dentro em constante loop, faz-me reviver esses sentimentos, faz-me mantê-los vivos, como se eu quisesse, constantemente, confirmar a existência do que aconteceu e, talvez em última análise, confirmar a existência de mim mesmo, do que sou. Porque penso muitas vezes no que sou e, por vezes, penso que sou pouca coisa, que sou só presente e que tudo passa a correr, que não há espessura temporal, e que a vida é “só viver”. Tenho a necessidade de me sentir robusto, cheio, convicto do que sou e do que já conquistei na vida. Mas pareço-me sempre um conjunto de fragmentos dispersos à procura de uma cola qualquer que os junte. Estou sempre à procura no passado – que é, talvez, o sítio errado.

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se não doer, minto

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Voltei ao dentista, voltou a dor, voltei a pensar. Da próxima vez que lá for, gostaria de não estar. Estaria o corpo, estaria eu, mas não estaria a consciência de mim. Assim, sentado, lá estaria um não-eu anestesiado. Mas corpo inteiro, não parcial, que eu sinto sempre o que doeu e o que não doeu, falso ou verdadeiro, porém, sempre real. Dói mais o medo da dor do que a dor em si, e eu cedo ao que for sem saber de mim. Assim que sinto o que realmente é, há desilusão por não ter sentido o que previa e alívio por ter sentido tão aquém. Ainda bem, mas porquê a previsão? Não queria sentir constantemente este medo pela dor do dente que já nem sinto. Se doer, penso. Se não doer, minto.

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distância:mente jovem| isa

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A Isa já não está habituada a ter pessoas à sua volta. A ansiedade, que já lhe vem de longe, tem sido agora a sua companhia que tem mais perto. Mas tem esperança também. E vontade de sorrir. Como as crianças.

Distância:mente jovem, um podcast sobre o que está confinado na mente dos jovens leirienses.
[autoria: André Pereira | música: Ruben David Marques | entidade promotora: Câmara Municipal de Leiria]

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o amor que não sei escrever

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Não sei escrever o amor de mãe. Nem tão pouco o de filho que a tem naquele lugar onde ninguém consegue entrar – não há realidade se ele não há. É onde estou desde que sou, lá. E, vá eu por onde for, não encontro nada tão meu como o amor que não sei escrever. Se vou, ele vem, e onde estou tenho sempre a minha mãe.


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na morte é que não

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Acreditamos na ressurreição, na morte é que não. Por isso é que acreditamos. Inventamos. Ressurreição é contradição, falsidade, ilusão, vontade de dar sentido à nossa aflição. A morte é fim e não suportamos que seja. Porque o fim aleija quem fica pela ausência de quem foi e pela iminência de ir também, de deixar de ser, e isso dói. Isso é morrer, e nós não suportamos deixar. Acreditamos que tudo vai continuar noutro lugar, que somos imortais pela suposta importância de sermos reais, de existirmos, de termos de ter alguma razão para aqui estar. Mais vale desistirmos, o que somos é ser e a razão é estar. Estamos errados. É por isso que acabamos, todos os anos, crucificados.

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