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Abril, 2024
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pela vida, cidade

Comentários (0) cada um é muita gente, contos

Anda pela cidade devagar, como se a cidade só andasse se ele andasse também, como se ela não pudesse respirar, como se ele fosse os pulmões que ela tem. E ele fala assim, envergonhado, com medo de falar, vai-se chegando aos outros encurvado, numa forma tremida que parece venerar. Anda pela cidade às escondidas, como se ninguém o visse e toda a gente o encontrasse, como se ele se despedisse e logo depois se mostrasse a quem está aqui e ali, numa esplanada, a quem anda a passear, a quem faz nada, a quem faz o nada durar. Anda pela cidade como se andasse pelos corredores da sua casa, pôr a mesa, mudar de canal, vestir o pijama, ler o jornal, e lá anda ele com os talheres e o comando, a flanela, o papel e o vai-se andando que a vida vai passando, e não é que a vida passa? E nem sempre é alegria, e nem sempre é desgraça. É o dia que ele vê e que ele tem, é o fim de tarde, o fim de dia, o fim de um filho de um pai e de uma mãe. Quem são, por onde andam, e ele por aqui, pelas ruas que desandam, pelo sorriso que, lá de vez em quando, sorri. Anda pela cidade parecendo assim, um caminhante cumprindo uma promessa de quem anda sem fim, sem promessa alguma, só com a crença numa espécie de doença que parece que o aproxima da loucura. Caminha e, por caminhos, vai sendo quem ele é, uma espécie de peregrino, um menino apregoando a fé. Anda pela cidade parecendo pedinte, lotarias, raspadinhas, sendo ouvinte de sins e de nãos, muito mais de nãos, e das ladainhas que ele diz para aceitar uns e outros, não infeliz, também não contente, parecendo assim, por um triz, ser gente. Anda pela cidade parecendo perdido, magrinho, olhar alto e no chão, conhecendo as pedras por onde anda, um homem sozinho numa banda com trombones, tambores, oboés, tudo calado rente aos pés num guarda-chuva fechado, pendurado à espera dela. Mesmo sem previsão, ele anda com ele à mão e não se desfaz da vontade que se acomoda. Ele e ele, a vida, e anda a roda.

Jornal de Leiria

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abril

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Pergunto ao vento que passa
Somos livres de sonhar
pelos cornos da desgraça
de combater a cantar?
Mapa do mundo distante,
dirão canção de liberdade…
Do nosso corpo mais adiante,
em cada rosto, igualdade.

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henrique

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Fazes falta nas festas, nos lugares cheios de gente, nos espaços vazios, nos cantos, nas renúncias, nas canções, naqueles inícios de tarde e fins que não chegavam por tu estares e prolongares a vida, nas noites todas, nas manhãs que não têm nada, nos dias de sol, nos de chuva, nos de tudo. E a noção de que somos pouco.

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artista

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«Já pedi a conta à menina, mas ela não vem.» Vim eu sem saber como. Parei neste tasco na Nacional. Mesa para um. Pode ser aqui. Boa noite. Bebia vinho, olhava a CMTV e, de vez em quando, lá desenhava. Uma obra de arte. Obrigado. Estava só a passar o tempo. Sou designer, fiz isto em três minutos. Eu nem em três anos. Desculpe incomodar. Obrigado por reparar. Não contava, não esperava. Aconteceu. Um jantar com um artista e um desenho que agora é meu.

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sessenta e três

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Abraço beijinho copo de vinho branco já para a mesa ansiedade saudade força lareira sofá o que tenho inteira cansaço dores nos ombros dores nas mãos só uma sesta jardim e assim são os sonhos amor canários acordar de manhã ir embora e agora mamã e agora? suspiro ao final do dia hora de almoço sozinha mulher menina também cão gato galinha laranjas pedronhe maninha são pedro nelito cartuxinha tudo é a minha mãe.

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