o fernando
Hoje, reencontrei o Fernando. O Fernando foi meu treinador no clube do meu coração, e é no meu coração que está o Fernando. Eu era o número 7, o médio centro criativo, o pacemaker (o mesmo que playmaker mas na linguagem especializada do Mister), o marcador de cantos, o distribuidor de jogo, o médio que fazia o bico do triângulo quando jogava o Edi e o Caldeira. Durante cinco épocas, de iniciados a juniores, o Fernando foi mais do que meu treinador. Foi meu líder, foi meu companheiro, foi meu amigo. E nunca foi o que foi porque me punha a titular ou porque me dava a responsabilidade dos penáltis, dos cantos e de falar no primeiro treino depois do jogo – o futebol, na verdade, nunca foi o mais importante. O Fernando foi o que foi e o que ainda é por ter sido um dos grandes pilares da minha vida. Foi o meu professor da bola, ensinando-me bem mais de vida do que de escola, bem mais de amizade do que de bola. Tanto recebi raspanetes como abraços, pré-épocas loucas nas dunas da praia da Vieira como jantaradas de comer e chorar a rir. Tanta coisa boa que lá vai. Tanta coisa boa que me fez do Fernando uma espécie de segundo pai. Não é exagero nenhum o que escrevo – muito do que sou é a ele que eu devo. O Fernando é, acima de qualquer táctica, um homem bom, com coração escondido atrás da barba e do boné que lhe escondem a criança que ainda é. O Fernando fez de mim um homem. E de tantos que nunca deixou para trás. Nunca. Levantou-os, tantas vezes do seu próprio bolso e todas as vezes do seu próprio amor. Hoje, reencontrei o Fernando. Quase chorou por me voltar a ver e me saber bem. Quase chorei também, vendo, ouvindo, lembrando – uma espécie de golo do coração. E é no meu coração que está o Fernando.