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a nossa piegas condição

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O nosso primeiro-ministro pediu aos portugueses para serem “menos piegas”. Que idiotice! Um pedido destes é tão ridículo quanto uma ordem de fuzilamento. Diminuir a nossa pieguice é um acto homicida. Enquanto portugueses, temos o direito – e, até mesmo, o dever – de defender esta nossa condição.

De norte a sul do país, do interior ao litoral, passando pelas ilhas, todos nós somos piegas. Ora porque não temos dinheiro, ora porque nos dói as costas, ora porque está sol, ora porque chove. Do que precisamos é de uma mão no ombro, de um simples aceno com a cabeça e de um leitinho quente. Do que precisamos é de mimo. O nosso nível de pieguice é equivalente ao nível de necessidade de mimo. Não vamos lá só com ordens. Não há solução. Está-nos no sangue. Nós somos piegas e gostamos de o ser. Adoramos chorar, suspirar, bradar aos céus… No fundo, só queremos atenção.

Podemos não ser os únicos a chorar a nossa tristeza, mas somos, certamente, os únicos a chorar a nossa felicidade. Até uma boa notícia merece um olhar atento sobre o seu lado mais triste. Porque, para nós, todas as coisas comportam tristeza. Ora mais, ora menos, mas ela está sempre lá. E, agarrada a ela, a pieguice. Mesmo quando está longe de aparecer, numa festa de reencontro de velhos amigos ou num jogo de futebol em que já festejamos o quarto golo, há ali um certo momento em que paramos e “alto lá, não deveria estar assim tão contente”. E voltamos a colocar de lado os sorrisos do momento e desatamos a carpir mágoas por já não podermos viver as histórias que recordamos ou por aquele golo não ser mais do que uma bola a entrar na baliza. Atiramo-nos para o chão agarrados à perna e, num excruciante esgar de dor, levantamos o braço para o árbitro, pedimos falta, dizemos que nos dói muito e esperamos pelo som do apito. Paramos para o ouvir, mas ele demora e nós temos que sair do chão. Para isso, não nos basta chorar sozinhos. Precisamos de chorar acompanhados por alguém que nos meta a mão no ombro e nos estenda um leitinho quente. Tal como nós gostamos.

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