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a partícula de deus

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O sistema de senhas do Hospital de Leiria é um dos grandes mistérios da Humanidade. E ainda bem. Porque, tendo em conta as horas de espera naquelas cadeiras de plástico viradas para um ecrã a mostrar como lavar as mãos, sempre vamos ocupando a cabeça a tentar decifrar este enigma da ordem de chamada. A minha senha M0288 foi chamada antes da senha M009 e depois da senha M978152726388. A culpa é minha, eu sei. Eu é que ainda não percebi a razão para este complexo sistema de funcionamento de anunciação, anunciamento, anunciamentação, sei lá, estou cansado, do número da senha. Certamente, há uma organização perfeita, funcional, eficiente, produtiva, prolífera, profícua, válida, resumindo, ao calhas que explica isto. Eu é que não percebo – e estava ali para tratar do ombro, não da cabeça. Na verdade, nem eu nem ninguém percebe. E é essa incompreensão de algo que deveria ser facilmente compreendido que faz com que eu aplauda este sistema de senhas todo ninja criado pelos génios da informática hospitalar. As pessoas estão ali sem fazer nada, horas e horas e horas e horas à espera de uma consulta de cinco minutos para ouvirem ah dói-lhe o ombro?, então temos de tratar disso, muito obrigado, senhor doutor, novidade do caralho, ponha gelo e tente não tocar onde lhe dói, vamos fazer análises, a próxima consulta é já em 2025. Bem, já estou a escrever demasiado e o meu ombro já está a gritar, estou velho, mas as pessoas também e estão ali à espera. Então, fazem um sudoku da compreensão do mecanismo inteligentíssimo de senhas. Em vez de tirarem um curso e irem para o CERN tentar decifrar a partícula de deus, arranjam uma tendinite e vão para o hospital tentar decifrar a partícula do totoloto das senhas. Bem, vou aproveitar e tirar senha para Psiquiatria.

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