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o silêncio faz parte

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E agora? O que é que eu faço? O que é que eu digo? Sorrio? Não sei sorrir. Desvio o olhar e a atenção para outro lugar? Finjo não estar? Como é que eu posso fingir não estar se toda a gente me vê? Para fingir não estar, tenho de estar. Se não, não seria fingimento, seria realidade. E todo este momento não seria momento porque seria verdade. É melhor não ser. E eu não sei. Não sei quem sou nem sei quem são estas pessoas que me olham. São más? São boas? Podem acumular ambas as condições – são pessoas, não são soluções. E eu sou outra pessoa. Ou outras, uma só, multidão… Por enquanto, sou tanto. Um dia, serei pó. Tudo em vão. O que é que eu sou? O que é que eu faço? O que é suposto fazer? (além de esconder o embaraço de não saber) Poesia… Deveria dizer poesia. Aqui, em cima destas mantas, perante estas pessoas que eu não conheço. E são tantas! Poesia… O que raio é isso? O que tem de ser? É rimar? Ou é só parecer? “Arte”… O que é que eu vou dizer?

Respira, André. O silêncio faz parte. A poesia é também o que não é. Como o amor, o vazio, a fé. Sorrio, é melhor sorrir. Sim, mesmo não sabendo como fazer. Acho que é assim. Pelo menos, vejo pessoas a sorrir para mim. Deve ser por compaixão. Umas olham, outras não, e eu em revolução por não saber fingir. Nem sorrir. Tenho de me mexer! A mão. Sim, a mão! Faz qualquer movimento com a mão! Abre. Fecha. Abre. Fecha. Não. Deixa… Não faças nada! Tens de falar. Sim, fala! Diz qualquer coisa, abre a boca, mostra os dentes, ajeita o cabelo, aclara a garganta e diz o que sentes. Não deixes que a ansiedade te obrigue a calar. Tens de falar! Não quero falar. Não quero estar aqui. Quero chorar… Sorri. Não consigo. Sorri! O que é que eu digo?! Falar, ou o ensaio para a fala, cansa-me o peito. Se calhar é defeito de fabrico o meu peito querer sempre fugir do lugar onde eu fico. E eu fico aqui. Sorri. Não consigo. Sorri! Não tenho jeito… O meu peito manda e anda e corre e quase morre de cansaço. E agora? O que é que eu faço?

Sei sempre o que fazer. Tudo! Nunca fico calado, parado, mudo, à espera que algo aconteça. Não sou desses malucos que ouvem vozes na cabeça. (embora pareça, eu sei) Como se desse para ouvir vozes noutro lugar que não na cabeça. No umbigo, no pé, no braço… Sou tudo aquilo que digo e não digo, sou o André, só não sei o que faço.

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