a minha prima clarinha
A minha prima Clarinha tem um escurinho parecido com o meu. Lá no seu peito, como cá no meu, há trovões leões canhões que despertam apertam inquietam o que há. Pequenina, também tem vontade de rugir gritar fugir chorar. E ruge grita foge e chora – epicentro. E tudo treme lá fora, lá dentro. Há dias, tremia eu por inteiro, quando a minha prima Clarinha me tirou do escurinho quando me disse que também o tinha, que também o via. Eu falei-lhe do meu, como se ela não fosse uma criança, que é e não é por sentir que sente coisas que não devia, nem devia, ninguém devia, mas sente tanta gente e tanta gente mente. E tentámos enganar o escurinho com palavras e números. Ela ensinou-me a fazer contas de dividir e conversões. Eu tracinhos e um verso. E acalmaram-se as convulsões – tornaram-se então coisa pouca. Iluminou-se o universo. Há palavras que nos beijam como se tivessem boca.