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nem sempre somos nós

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É normal não te sentires normal. Não há preocupação. As coisas são como são e tu és tão normal como toda a gente. Não igual, diferente. Mas que sente tal e qual como quem está ao lado, também confinado. É normal esses cavalos no peito ao acordar que, durante o dia, te andam a cavalgar e que, de noite, não adormecem, parece que sim, desaparecem, mas aparecem por fim sem que ele seja. O cavalgar aleija. Mói o peito e o efeito é despertar pensar pensar pensar pensar pensar. Dói. Não devia. É normal. Deve porque é o dia que se vai repetindo e a angústia que se vai engolindo encobrindo com vinho e televisão. A nós é que nos falta carinho, compreensão. É normal, o mundo está fodido. É normal o comprimido, é normal o não teres dormido a noite inteira por medo sabes lá de quê, nem sabes se é verdadeira a emoção de quem te vê. É normal quereres chorar. Desaparecer. Gritar com os pais, com os irmãos, com os vizinhos. Estamos onde não deveríamos viver, e parece que estamos sozinhos. É normal, não havendo normalidade, sentirmos que o passado é que era o lugar certo e que o futuro nunca esteve tão longe, mesmo estando tão perto. Essa vontade de tocar comer beijar foder parece doença e há quem se convença, e com a sua razão – cada um tem a sua, que tudo se leva com meditação. E quem não consegue? Vai para a rua? Quem não tenta – está no direito de não tentar, quem não quer, quem tem medo de falhar? Quem não, o que faz? Não há só uma solução. É normal dizer que não, não sou capaz. E sinto angústia e raiva e medo e minto nas redes sociais porque lá somos todos felizes todos iguais, criando raízes de seres “normais”. Não é essa a normalidade. Horror, saudade, vontade de amor. É normal tudo o que for. E não estamos sós. Somos humanos, falhas, inquietações e as multidões nem sempre somos nós.


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