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se não doer, minto

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Voltei ao dentista, voltou a dor, voltei a pensar. Da próxima vez que lá for, gostaria de não estar. Estaria o corpo, estaria eu, mas não estaria a consciência de mim. Assim, sentado, lá estaria um não-eu anestesiado. Mas corpo inteiro, não parcial, que eu sinto sempre o que doeu e o que não doeu, falso ou verdadeiro, porém, sempre real. Dói mais o medo da dor do que a dor em si, e eu cedo ao que for sem saber de mim. Assim que sinto o que realmente é, há desilusão por não ter sentido o que previa e alívio por ter sentido tão aquém. Ainda bem, mas porquê a previsão? Não queria sentir constantemente este medo pela dor do dente que já nem sinto. Se doer, penso. Se não doer, minto.

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