rip irreverente
A maneira politicamente correcta de dizer que alguém é homossexual (como se fosse politicamente incorrecto dizer que alguém é homossexual – como se fosse sequer necessário dizer que alguém é homossexual) é dizer que é irreverente. E mais irreverente se torna (ou é tornado por quem o diz) assim que esse alguém morre.
O Beauté era um cabeleireiro irreverente, o Variações era um músico irreverente. Parece elogio, é engano. Parece qualidade, é farpa. Dizer que o Beauté era um cabeleireiro irreverente e que o Variações era um músico irreverente é fazer truque com a língua, é esconder a ofensa numa característica que nem aquece nem arrefece, mas que parece dizer uma coisa muito boa. Não é, é só sonsice de linguagem, é só homofobia camuflada.
Para esta gente politicamente correcta que diz que aquele era aquilo, aquele não era apenas homossexual, era paneleiro, maricas, rabeta, larilas, panasca – a lista de palavras é longa, como a estupidez de quem as cospe. Na sua boca, irreverente é, apenas, eufemismo para o insulto.
Ser homossexual não é ser irreverente, é ser pessoa. Sendo irreverente ou não, é ser, acima de tudo, pessoa. Mas a irreverência é a “qualidade” que lhe parece ser inata. A irreverência é fugir às regras, portanto, é ser homem e apanhar no cu. É o que quer dizer esta irreverência, palavra que, escondida pela suavidade de uma saudável rebeldia, mais não é do que arma de arremesso para quem a usa no contexto do adeus a um gajo do caralho que gostava era de caralho. Qual o mal? Qual a relevância sequer? Irreverente? Irrelevante.