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vota ventura!

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Vota Ventura, se o teu candidato for Ventura. Ou Tino, se for Tino. Ou Marcelo, Ana, Marisa, Mayan ou João. Ou em branco. Ou nulo. Ou não votes. Qualquer acção é uma acção da realidade. E a realidade não é o que nós achamos que ela é.

A realidade é linda, mas feia também, horrível, nojenta, com borbulhas, queimaduras e pus. A realidade tem gente fascista, comunista, do centro, inclinada para a direita, para a esquerda ou para lado nenhum. Tem gente estúpida, inteligente, ignorante, sonhadora e pragmática. Tem gente pobre, rica, com fome, cancro, casas na praia e vida na merda. Tem gente de cravo na lapela e gente que se está a cagar para a democracia. Toda esta gente é realidade. E é a realidade que é essencial conhecer, e é a realidade que não conhecemos. Nós não sabemos quem somos. Desconhecemos as ruas, as emoções e as ideias. E, desconhecendo, desvalorizamos. Mas as ruas, as emoções e as ideias têm gente dentro e, desvalorizando ruas, emoções e ideias, desvalorizamos gente. Surpresa! Há gente com outras ruas, emoções e ideias que não as nossas – por muito estúpidas que sejam, as da gente ou as nossas. E essa gente faz parte da realidade, e essa gente é realidade. E a realidade não se combate com proibições nem com discursos ocos de lábios pintados. A realidade combate-se, não combatendo, começando com a vontade de a conhecer. Saber que há quem vote neste, naquela, em branco, nulo ou nem sequer vote, mas também perguntar, perceber, conhecer. Mas isso custa. Implica trabalho, dedicação, luta, paciência, tanta coisa que nos falta – e de que temos tanta urgência. Talvez daí a ilusão de não termos tempo. Queremos tudo agora, sem perguntas, só respostas, desde que as respostas sejam as que nós escrevemos no nosso caderno vazio de lixo. Surpresa! Nós também somos lixo.

O resultado de hoje não é a vitória de uns nem a derrota de outros. O resultado de hoje é sempre a derrota de todos e sempre a vitória da realidade – mesmo que ela não seja o que nós achamos que ela é. Bem, ela não é o que nós achamos que ela é. Mas talvez fosse boa ideia tentarmos olhá-la e percebê-la. Só assim percebemos o que somos. Só assim podemos ser o que quisermos.

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