se vejo, magoa
Se vejo, magoa.
Se não, também.
É dor que atraiçoa,
é dor que vem
assim de mansinho
(se fosse promessa…),
devagarinho,
tão depressa!
E eu sem saber
lidar com o jeito
de a ter a bater
cá dentro do peito.
Como se faz?
Devo lutar?
Fugir? Ir atrás?
Ou só não ligar?
Mas a dor arranha
– ela sabe andar nisto.
Tem aquela manha,
mas eu não desisto.
Ou só digo que não
para não me dizer
que sou contrafacção
do que quero parecer?
Mas parece que sim,
que até tenho vontade
de ser, para mim,
o que sou de verdade.
Qualquer coisa que luta,
à procura de si.
Mas a dor, essa puta,
magoa e sorri.
Doce e amarga,
como na poesia.
Ela não me larga,
e eu bem queria.
Se vejo, magoa.
Se não, também.
Até já enjoa
não estar nada bem.