hello@domain.com +00 999 123 456

amor
Tag Archive

na comuna, aconteci

Comentários fechados em na comuna, aconteci bloco de notas

Fui eu, fui outro, fui outros, aprendi, sorri, chorei, sofri, agradeci, quase morri de vergonha, quase me vim de alegria, abracei, fui abraçado, gritei, cantei, caí, amei, fui amado, vi gente que me amava, amei gente que me via, fui às nuvens, fui à lama, fingi e fui sincero, tive medo e tive medo e tive medo e tive medo e superei o medo e vi luz depois do escuro e vi tudo e ganhei tudo e perdi tudo e senti tudo. Aqui, na Comuna, aconteci. Aqui, na Comuna, fui vida. No palco como aqui deste lado em que me encontro agora. Atrás das cortinas. Com tudo e tanto, apesar de tudo e tanto, e dói e dói e dói e amo e vivo. Vivo vida que, para mim, é palco. E vivo palco que, sendo vida, é este. O da Comuna. Um aniversário que também é meu. E nunca viverei o suficiente para o agradecer. Por muito que doa. Foda-se, e dói.

Continuar a Ler

vírus-amor

Comentários fechados em vírus-amor vídeos

“vírus-amor” | autor: andré pereira, edição de imagem: susana rodrigues

Aqui há uns tempos, escrevi um texto que, tal como o vírus, se espalhou por aí. Esteve em Portugal, Espanha, Angola, Cabo Verde, Brasil. Foi lido, pelo padre, na missa de Oeiras e foi bordado num pano, no Recife. Um simples texto que, hoje, ganha outra vida, desta vez em vídeo. A arte é da Susana. As palavras são minhas. O vírus também.

Continuar a Ler

mais forte do que via

Comentários fechados em mais forte do que via bloco de notas

Era o dia do funeral da minha avó quando vi, pela primeira vez, o meu pai chorar. Enfraqueci porque vi, ali, em estreia absoluta na sala da minha existência, o meu super herói ficar sem poderes. Não estava à espera. Nem sequer pensava ser possível. Mas foi. Ao mesmo tempo, senti que o meu pai não controlava tudo e que era humano. Desde esse dia que o vejo de forma diferente. Mais forte do que via, enquanto super herói. Mais humano. Ele não ficou sem poderes. Eu pensava que não mas, hoje, sei que chorar, que é sentir, é um super poder. Dos humanos. O maior.

Continuar a Ler

uma só criatura

Comentários fechados em uma só criatura bloco de notas

Um único homem, uma só criatura, transmitiu um vírus que, em 102 dias (1 Dezembro 2019 – 12 Março 2020), atingiu 130.164 pessoas, matando 4.754. Tudo começou num único homem, numa só criatura. Mais do que qualquer outra análise que possamos fazer, este contágio galopante mostra-nos a influência que cada ser individual tem em milhares de milhões. Um, em 102 dias, contagiou 130.164 pessoas. Um, sozinho, fez estremecer o planeta, fechar fronteiras, monitorizar governos, segregar pessoas, amedrontar consciências, trancar portas, esvaziar esperanças. A influência de um único homem, a consequência da acção de uma só criatura, na vida do mundo inteiro. Eu, tu, que somos um único homem, uma só criatura, temos o poder de atingir e condicionar o comportamento de 7 mil milhões de pessoas. É assustador. Eu, tu, somos a borboleta que bate asas na China e causa uma tragédia no mundo inteiro. É aterrador. Desta vez, foi o vírus errado, o Covid19. Imagina quando for amor. É possível.

Continuar a Ler

ele e ela

Comentários fechados em ele e ela bloco de notas

Estes são o meu tio António e a minha tia Fernanda, embora nunca tenham sido, para mim, nem António nem Fernanda. Estes são o Quicoino e a Nhanha. Ela morreu em 2002. Ele tem morrido aos poucos desde 2002. Ele existe, ainda, e ela também, num lugar diferente. Ele com muitas saudades dela, ela lá longe de nós. Ele choraminga sempre que a lembra, faz beicinho e limpa os olhos com as mãos enrugadas e duras e já fechadas sobre si mesmas. Solta um suspiro e tenta arranjar mais um bocadinho de ar para continuar neste lado sem ela. Tem conseguido. Ela enchia-me de mimos e eu roubava-lhe Ferreros Rocher. Ele tocava trompete e deixava-me chateá-lo enquanto dormia na espreguiçadeira. Foram-me tios por grau e avós por coração, tantas vezes pais. Hoje, o Quicoino está cansado e triste pelas saudades que nunca deixou de ter dela. Ela, a Nhnanha, tem a gargalhada estridente em cada memória que ele traz à conversa. Ele a preto e branco, ela a cores. Ele e ela, dois amores.

Continuar a Ler

quando há mundo

Comentários fechados em quando há mundo poesia

quando há mundo em tudo o que há
vivido, no fundo, do tempo que é pouco
mas parece infinito, tempo bastante
que vai perto do que é distante
mas, num instante, é já sufoco.
quando há mundo em cada detalhe
café, cerveja, alentejo, inferno
que na boca tem o mar
no fado, o teu olhar,
na dança, o não saber dançar
e tudo é terno.
quando há mundo em não ser mundo
quarto escuro, clandestino
praia sem nome, cama suada
vinho, noite passada
multiplicada pelo destino.
quando há mundo em tudo o que há
e tudo o que há nos engana
é lindo (embora ruim) quando há vezes
que deveriam (diz-se assim) durar tantos meses
mas que duram um fim-de-semana.

Continuar a Ler

o amor não é arte

Comentários fechados em o amor não é arte bloco de notas

Ser criativo é lindo para a arte e uma merda para o amor.

No amor, criamos mais do que existe e menos do que é. Criamos bocas que a beijam e corpos que a fodem. Criamos enredos de traições. Criamos pensamentos nos pensamentos dela, dando de comer aos nossos medos que estão sempre ali, de mão estendida, à nossa espera, de mão cheia durante, de mão beijada depois.

Criamos pesadelos, matamos sonhos à nascença e fazemos respiração boca a boca às angústias e às ansiedades que nos renascem nas veias e naquele tic-tac furioso do coração.

A maravilhosa arte de criar é uma porta escancarada para o infinito, e o infinito tem muito de escuridão. Nisto do coração, tudo o que não deve ser criado é tudo o que acabamos, nunca acabando, por criar.

Ser criativo é lindo para a arte e uma merda para o amor. Porque o amor não é arte, porque só há arte no amor.

Continuar a Ler

longe coração

Comentários fechados em longe coração bloco de notas

Quando os amores estão longe, os corações estão longe também. Quando eu estou longe dela, quando ela está longe de mim, os nossos corações estão longe também.

Mas não é o meu coração, comigo, que está longe do coração dela, com ela. Não. O meu coração está longe de mim, do meu corpo, da minha razão, e o coração dela está longe dela, do seu corpo, da sua razão. Estando os nossos corações longe de nós próprios, embora perto de mim e dela (comigo e com ela), torna-se difícil suportar esta coisa que é viver de coração afastado (o meu) e de coração forasteiro (o dela). Porque, nesse momento, fugaz ou eterno, não somos nós que mandamos no nosso coração. Ele está longe, perto dela (com ela). É ela que o comanda. Tal como o dela está perto de mim (comigo) e sou eu que bem decido o que lhe fazer.

O problema é que nem eu nem ela sabemos lidar com corações que não os nossos. Ninguém sabe. E esta incapacidade para lidar com corações alheios provoca trapalhadas, sonhos, ansiedades, ilusões, borboletas, pedras, palavras, filmes, lágrimas, cabeças no ar, loucuras. Ou, noutras palavras que é só uma, amor. O amor não é o meu coração a bater no meu peito, é o meu coração a bater no peito dela.

Continuar a Ler

diazinho oficialzinho

Comentários fechados em diazinho oficialzinho bloco de notas

Hoje é o diazinho oficialzinho dos namoradinhos. Juntam-se todinhos, trocam mensagenzinhas a dizer que se amam muitinho e que querem ficar juntinhos para todo o semprinho. Está escrito nas entrelinhas de todas estas lamechices. Hoje é o dia dos inhos e das inhasBeijinho para aqui, queridinha para ali.

Eu até gosto destas confissões de amor terminadas com mil asteriscos no final das mensagens, mas tem de ser todos os dias. Sim, tem de ser porque o amor (ou o amorzinho para os adeptos ferrenhos deste dia) não é feito apenas de 24 horas a meio do mês de Fevereiro. O amor, se é que existe, não é mais que olheiras de sono e de choro, copos vazios, camas desfeitas e dores de barriga. O amor não é feito num dia cujo santo padroeiro é um Valentim. Se fosse mesmo amor, o santo deveria chamar-se Valente. Deveria ser o dia de São Valente, e não São Valentim.

A partir do momento em que se tem contacto com o amor, a pessoa fica completamente desprotegida para o resto da vida. Qualquer olhar mais demorado numa mesa de café ou um sorriso mais provocador numa loja de roupa atira-nos imediatamente para o chão, sem qualquer cadeira onde nos possamos sentar e, pior que isso, nus, à vista descartada de qualquer transeunte desgovernado.

Como o Miguel Esteves Cardoso escreveu, “as pessoas haviam de encontrar o grande amor das suas vidas só quando fossem velhas. É sempre melhor viver antes da felicidade do que depois dela”. E é bem verdade, a felicidade só vem atrapalhar a nossa vida. Faz-nos andar com sorrisos parvos todo o dia, aceitar todos os atrasos do autocarro que nos leva para o trabalho todos os dias, compreender todos os problemas de todos os taxistas de todas as cidades, sorrir e dar dois euros a um mendigo que nos roga uma praga qualquer terminada em “Deus Nosso Senhor”, e por aí fora… A felicidade é uma anestesia que nos alucina de tal forma que não conseguimos encontrar uma rua suja, um empregado das finanças antipático ou um político corrupto.

Por outro lado, viver sem qualquer felicidade também chateia. Nem que seja aquela felicidade de ver o Aimar a fintar meia equipa e a meter a bola no fundo da baliza. Ou a outra felicidade de dar uma gargalhada de 20 minutos sem ninguém ter contado uma anedota.

São felicidades relativas, ao contrário do amor, que não acontece num só dia e não deve ser relativizado por programas de televisão com balões em forma de coração. O amor é absoluto e impossível de alcançar. Apetece-me mesmo dizer o título de um livro do Miguel Esteves Cardoso, mas não digo. Fica nas entrelinhas.

Continuar a Ler