crónicas da sala de espera
Dei por mim a reler o Pedro. Sim, o Pedro, não o livro do Pedro, mas o próprio Pedro, o homem, o camarada, o amigo. Reler o Pedro é a única forma de o voltar a ter na cadeira ao lado, a contar-me histórias de música, de mulheres e de jornalismo antigo, daquele que já não se faz. Eu não fazia nada. Apenas ouvia o que ele me dizia, e ele dizia-me tantas vezes para viver e escrever e não ter medo, e eu ouvia, e ele vivia e escrevia sobre o medo que dizia não ter. Ele tinha cancro, todos temos o medo de morrer.
As crónicas sobre os seus tratamentos de quimio e radioterapia que escreveu foram ditas na antena do Rádio Clube, onde partilhámos uma vida inteira de um ano. Antes de as dizer, pedia-me para as ler e para lhe dar opinião, se haveria alguma coisa a mudar. “Nada, Pedro”, dizia. “Só a doença, Pedro”, pensava.
O Pedro juntou todas as crónicas e editou este livro. Morreu pouco tempo depois. Ficámos sozinhos. E é quando o releio que ficamos só os dois.