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o soldado que não voltou

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Memória. É ela, parece-me, que lhe comanda a vida. Não é o sonho, como diz a canção. O sonho deve ter-lhe morrido no instante em que lhe morreu um camarada por estilhaços de uma granada no meio do mato. Angola ou Guiné, escuridão de certeza absoluta. Ainda hoje.

A guerra, ou qualquer outra coisa muito pior, fervilha-lhe nos gestos, corre-lhe no sangue que lhe corre pelo corpo inteiro, nas pernas que não falham um passo, nas mãos que não falham uma reza, na boca que não falha uma passa do charuto que chupa todos os dias sentado num pequeno muro de pedra. Tem o batalhão inteiro a caminhar com ele e o dever patriótico de cumprir a missão diária que lhe dá razão aos dias.

Não sai da rotina, não muda o trajecto. Só quando chega a mãe, que lhe pede ajuda com os sacos das compras, é que ele despe a farda e sorri, cospe o charuto e fala, larga o tempo e ganha cor. Ela vai embora, ele volta. E volta às voltas que a memória lhe dá. Angola ou Guiné. Oeiras, 2019. Amor de mãe. 

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declarações de guerra

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Não é um livro, é um estilhaço de granada. “Declarações de Guerra” conta, em carne viva, as vidas de ex-combatentes portugueses no Ultramar. As vidas que foram e as que ficaram, ditas por eles mesmos, furriéis, soldados, cabos, alferes, sargentos, todos eles destroçados por uma guerra que não era deles. Ficaram-lhes as vidas que já nem vidas são. Ficaram ninguém.

Um trabalho excepcional de Vasco Luís Curado que esventrou o politicamente correcto para dar voz a quem não queremos dar ouvidos.

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