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a minha geração

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Sou da geração dos 1.000 euros, mas nunca ganhei mais de 800. Nunca estive nos quadros, estive perto, mandaram-me embora. Três contratos de seis meses, o clássico, és essencial, já não és, obrigado e bom dia. Fiz dezenas de formações e uma série de estágios, nunca tive – nem agora tenho – nem nunca terei – experiência suficiente para receber o que mereço receber. Mas trabalho, trabalho muito bem, trabalho melhor, não me baldo com baixas nem me levanto baixando-me. Tenho projectos do caralho, mas claro que não ganho nada com isso porque não são gourmet. Como sou da escrita, qualquer um pode fazer o meu trabalho, claro que pode, qualquer um escreve, mal, mas pouco importa. A verdade é que também ninguém lê. Lendo, saberia escrever e saberia entender o que se escreve. Vou a palco, mas óbvio que nunca lucrei com isso. Há dinheiro para o IGAC, dinheiro para a SPA, dinheiro para o Teatro, dinheiro para o produtor, dinheiro para o promotor, dinheiro para o fotógrafo, dinheiro para o técnico de som, dinheiro para o técnico de luz, dinheiro justo para quase todos, mas dinheiro injusto para mim. E o dinheiro dos bilhetes, que é pouco para mim, é sempre muito para quem quer assistir ao pobre artista no palco. Não arranjas uns bilhetes? Não arranjas uns textos? São só uns lugares. São só umas palavras. E eu não sou só isto. Mas cá me arranjo.

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