bob dylan
Não foi desilusão porque a ilusão não havia. Bob Dylan foi Bob Dylan. Apagado, chocho, fechado, autista, antisocial, músico e merdas. Disse, apenas, as palavras das músicas. Nem mais ai nem menos ui. Não que devesse ter dito, feito ou sido. Foi um palco e uns instrumentos com voz. Não foi mais nada. Muito menos arte. Foi, até, o reforço da sua ausência. O cd tocava ao fundo, com um som digno de nada, e as pessoas bocejavam e adormeciam e acordavam e bocejavam e adormeciam e acordavam – e bem e bem e bem e bem e bem e bem – e aplaudiam, não pela música bem tocada, mas por a música ter chegado ao fim – e muito bem! Não foi desilusão, já estava à espera de que fosse uma merda.
nem a certeza
Nem a certeza de não saber
eu tenho.
E, não a tendo,
não duvido, duvidando.
Não a digo, dizendo.
E só, só pensando
(ou lembrando o que já pensei),
duvido do caminho que, pisando,
me vai, da vida, levando
até perto do que não sei.