paixão ou lá o que é
“Para mim, o sucesso não está relacionado com dinheiro, fama e poder, mas sim com o número de olhos que estiverem a brilhar à minha volta”. Benjamin Zander, um carismático maestro inglês, disse esta frase perante uma plateia de 1600 pessoas. Perante 3200 olhos que brilhavam mais do que uma tonelada de diamantes. Zander tinha alcançado o sucesso. Tudo graças à enxurrada de emoções que transmitia ao tocar um simples prelúdio de Chopin. Para Benjamin, aquilo não era apenas música (como se à verdadeira música se pudesse associar um “apenas”). Para Benjamin, aquilo era mais. Muito mais. Em cada respiração, em cada palavra, em cada olhar, em cada partícula do seu corpo havia uma camada monstruosa daquela coisa a que se costuma chamar paixão.
Aquela era dele. Encontrou-a ali. E a nossa? Onde está? É urgente descobrir aquilo que nos move, que nos congela, que nos faz gritar, que nos cala, que nos torna maiores, que nos aperta no peito e que nos faz perder a noção do ridículo quando até mesmo o ridículo sente vergonha. Fazer com que os olhos brilhem. Os nossos e os deles. Com uma música, com um poema, com uma equação de Matemática, com uma dança, com um levantamento de peso, com o carimbar de um formulário, com a limpeza de um passeio, com um golo, com a pintura de uma parede, com tudo! Fazer com paixão é apaixonar os outros. E os outros estão cada vez menos vivos. Esses outros que somos nós. Que andam de um lado para o outro com a cabeça no chão, com as mãos nos bolsos e com a esperança no lixo.
De que vale chegar a velho, olhar para trás e escrever uma autobiografia a preto-e-branco, com as palavras no sítio certo, sem erros, sem capítulos inacabados? De que vale chegar a velho e reparar que, de facto, até vivemos uma vida perfeita, carregadinha de ângulos rectos e de ordens alfabéticas? Muito provavelmente não fomos felizes. Tivemos dinheiro, fama e poder, mas onde estão os olhos a brilhar à nossa volta?