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a felicidade do suicídio

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“Tristeza não tem fim, felicidade sim”. Lêem-se as palavras de Vinicius de Moraes e ouve-se a melodia de Tom Jobim. Da felicidade, porém, nem um sinal.

Definição de suicídio no Dicionário da Língua Portuguesa: “substantivo masculino| acto ou efeito de suicidar-se; tirar a própria vida”.

Chester Bennington, vocalista dos Linkin Park, suicidou-se este mês. Por ser figura pública, muito se falou sobre a sua morte e sobre as razões que o levaram a cometer tal acto. O músico parecia ter (e talvez tivesse) uma vida perfeita: sucesso profissional, família, amigos, fama e dinheiro. Para muitos, a definição de felicidade. Mas o que é isso da felicidade?

A felicidade é a cenoura à frente do burro. A sociedade é quem está em cima do burro a segurar na cenoura. Sobramos nós e o burro. A associação é lógica – não preciso de a dizer.

A cada instante, a sociedade acena-nos a cenoura com o objectivo de nos fazer salivar e ir atrás dela. No entanto, nunca a apanhamos. A cenoura continuará à frente dos nossos olhos, e nós sem lhe conseguirmos tocar. Compramos um telemóvel, mas há sempre um mais evoluído por ter. Conseguimos o melhor emprego, mas há sempre um que nos poderia dar um melhor salário. Conseguimos a mulher mais bonita, mas há sempre uma Mila Kunis no nosso raio de visão. A constante criação de felicidades vai formando um ciclo vicioso que se repete ad æternum.

Esta impossibilidade de alcance gera frustração. E a felicidade ali ao virar da esquina.

Mentira. Não está. Nunca está. E esta frustração de não estar bate mais forte no peito dos mais sensíveis, como os artistas, seres que escarafuncham as entranhas da sensibilidade. A maioria das pessoas reage a ponto de não se matar. A maioria. Não todas. O Chester matou-se. O Chris Cornell matou-se. Até a Marilyn Monroe se matou. Artistas.

Aliás, este “tirar a própria vida” acaba por, estando certo, estar errado. A vida, sendo nossa, não é nossa de verdade, na medida em que não a escolhemos. Não escolhemos nascer, não escolhemos o sítio onde nascemos, não escolhemos os nossos pais, não escolhemos as pessoas que nos rodeiam, não escolhemos a data nem a forma nem o local da nossa morte – pelo curso natural da vida. Temos outras escolhas ao longo da nossa existência, mas estas, as vitais, não partem da nossa vontade.

“Não podemos impedir o nosso nascimento: mas podemos corrigir esse erro (…) Quando um homem se suprime a si mesmo, ele faz a coisa mais digna de respeito. Quase conquista o direito a viver”. As palavras são de Nietzsche, o filósofo alemão que apregoava o amor à vida, mas que defendia o suicídio na altura exacta, “a morte livre, consciente, sem acaso”. Mas será que o suicídio é mesmo a única decisão livre que podemos tomar? Ou é apenas uma forma de fuga perante o vazio conceito da felicidade?

O suicídio talvez seja pregar uma partida à morte, não à vida. O suicídio talvez seja virar o tabuleiro do xadrez a meio do jogo. E agora, quem ganhou? Há, sequer, vitória quando ambos perdem?

Perdeu o Chester, o Chris (e até a Marilyn). O suicídio foi a única solução que eles encontraram para contrariar esta imposição (e ilusão) social chamada felicidade. A cenoura continua à nossa frente. E nós continuamos a olhar para ela. Salivamos, corremos, fracassamos e morremos.

“Tristeza não tem fim, felicidade” também não, porque nem chegou a ter princípio.

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