mulher antes da partida
Compra o tempo com um cigarro. Vai às compras mas, antes de entrar, já está a comprar. Sacos vazios no carrinho, olhos vazios atrás dos óculos. A preparação passa pela tranquilidade de um cigarro ao sol, a olhar sabe-se lá para onde, talvez para dentro, que é dentro que temos a necessidade de um bafo de cinco minutos que nos ajude a acalmar a vida. Bem vestida, ela – não a vida, chega de tarde, não todas, mas sempre às quatro e vinte. Encosta-se à parede para ser desenhada ou para estar mais perto do cinzeiro, não sei, talvez ela saiba que a olham olhando sabe-se lá para onde, talvez para dentro, talvez não saiba e só quer é facilidade neste processo de queimada. Nunca a vejo no regresso, sempre na partida, ou melhor, no que lhe antecede a partida, no cigarro e na pose, nos sacos vazios e nos olhos que, para dentro, olham cá fora, neste processo de vida, mulher antes da partida.