domingo
O domingo é a permanente ausência do dia, a memória viva do ontem e a antecipação sofrida do amanhã, a noite que não é, o intervalo da vida, o fosso entre a ilusão e a realidade, o limbo dos corpos, o sofá das almas, o ir não ir e ficar, o ser não sendo a dormitar, o ronronar dos gatos, a ressaca dos sentidos e o snooze de os sentir, a chuva nos vidros da janela da sala, o falar e ouvir e tocar e cheirar e provar tudo a preto e branco, a televisão a médio-som, a solidão a média-luz, o passeio dos tristes, o sal da melancolia, a câmara lenta da ronha.
O domingo é de quem sonha a permanente ausência do dia.