na linha da frente
Há várias formas de lutar. A minha, neste momento, nesta guerra, é cá dentro, longe das pessoas. A da minha mãe, neste momento, nesta guerra, é lá fora, perto das pessoas. Sempre fomos muito diferentes, mas iguaizinhos. Mas, hoje, não sou eu, é ela. A minha mãe trabalha na área da saúde. Está, portanto, na linha da frente do combate ao inimigo. Protegida com máscara, regras e fé, mas desprotegida, como estamos todos, um bom bocado mais do que todos, na verdade. A minha mãe, que não é médica nem enfermeira, tem a função (e o dom) de ouvir, acolher e encaminhar. Recebe as crianças e os velhos, as queixas e os medos, os murmúrios e os gritos. A minha mãe não desiste nem deserta. Está e vai continuar a estar lá na frente até isto acabar, mesmo que isto não acabe nunca. Ela é assim, teimosa na bondade. A minha mãe, por ser minha mãe, está mais desprotegida do que todos. É a minha mãe, os outros todos são apenas os outros todos. Eu sou os outros todos. E a minha luta não é luta nenhuma quando luta a minha mãe. Só quero que isto acabe para ela voltar. Há mais de demasiado tempo que não a abraço. Há várias formas de abraçar.