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a margem do tempo

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Uma peça de cinco minutos que demora sessenta. Uma pessoa em duas personagens. Uma velha, uma nova. Vivem pela casa e não se cruzam. A velha vê a nova, vendo a lembrança do que foi. A nova sente a velha, sentindo o que será. Não há palavras ditas e todas as que há estão nas que imaginamos pela tremenda seca que a peça causa em quem a vê e tenta compreender. A verdade é que a peça vê-se e compreende-se nos primeiros cinco minutos. Tudo o resto é desnecessário. Há música a acompanhar o desnecessário, música perfeitamente em linha com ele: inquieta ao início (primeiros dois minutos e meio), reveladora durante (segundos dois minutos e meio) e repetitiva no fim (últimos cinquenta e cinco minutos). Todos os (poucos) momentos que aproximam personagens e público são criados, apenas, pela música e pela luz. Sem música e sem luz, esta peça não seria teatro – o que significa que esta peça, se fosse apenas teatro, não seria teatro. É uma pena ver uma actriz como a Eunice fazer isto, mas também acaba por ser bonito – há uma espécie de beleza na decadência da peça que, por qualquer razão, vai bem com ela. A neta está lá e parece-me que o que faz faz bem. A peça, como está, não dá para mais. Talvez porque não seja uma peça, mas sim um exercício teatral que tem mais cinquenta e cinco minutos do que aqueles que deveria ter.

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