o dia são tambores
É o barulho. Tudo é barulho. O sol, o almoço, o vento, o cheiro, os cafés, os cães, as janelas, os cigarros, os carros, os pensamentos, as cores, os sorrisos, as flores, a rua, a estrada, a escada, o passeio a pé. Nunca sei o que ouvir porque oiço tudo como tudo é. Porque oiço tudo, se tudo é? Se o tudo fosse leve… mas o tudo são dores. O dia não me serve. O dia são tambores. Não quero ouvir tambores. Não quero ouvir estrondos no peito. Mordo o dedo indicador e fica a marca. Aceito, e sinto a carne e o osso ao morder. É uma espécie de grito contra mim. Mordendo, vomito, e doendo e aflito vou sendo o que grito, uma espécie de aproximação do fim. Culpo o dia, mas a culpa vem de mim. Não devia, não sejas assim… Sou, e ela é minha. E eu só verdade. Mas só à noitinha, quando me chega a saudade.