arguido
Não me peçam conselhos de amor. Sou a pior pessoa do mundo inteiro a quem se possa pedir coisas dessas relacionados com essa coisa. Nunca digo não digas, não vás, não escrevas, não beijes. Nunca. Digo sempre sim, sim, sim, sim. Se isto da vida for tribunal e isto do amor for arguido, eu sou o seu advogado de defesa, mesmo sabendo que defendo esta coisa sem defesa possível, que nos destrói as defesas todas, dizimando-nos por dentro e escangalhando-nos por fora. Não me peçam conselhos de amor, que eu sou sempre a favor do amor. Pode não haver solução possível, quase sempre não há, que eu atiro-me de corpo inteiro, que envolve a alma, dou mortal encarpado, cuspo fogo e mergulho nesta coisa do amor. Mas tu escreves sobre o amor, André. Escrevo, por isso é que não sei nada sobre ele, eu só escrevo sobre o que não sei e só escrevo muito sobre aquilo que não sei absolutamente nada. Nem quero saber, que isto do amor não tem sabedorias. É amar e pronto, o resto é morte.