irmão coração
Amanhã vou aprender as letras, tenho medo de não conseguir, dizia eu. Amanhã vou aprender as letras, estou tão entusiasmado, dizia ele. O meu irmão sempre olhou a vida de joelho levantado, pronto a correr com ela – ou contra ela, se fosse preciso. Eu não. Preso ao chão, indeciso, braços fechados e olhar escondido (embora nunca fechado), sempre olhei a vida desconfiado. Mas fui mudando, pouquinho sozinho, mas tanto com ele ao lado. Não deixei de ser o que era no epicentro, mas comecei a ter coragem para ser o que não era e queria ser por dentro. O meu irmão trouxe-me as pernas do sonho, o arranque do desconhecido, a coragem do coração. Eu, sem ele, escondido, continuaria a ser o que era, sonhando, desconhecendo e amando, mas sem o amor – que é o impulso da vida passando – que tenho pelo meu irmão.