capitão acácio
PRAIA DO BALEAL
“O mar era tudo para mim. Hoje, já não tenho capacidade para nada”. Acácio foi pescador, mariscador e nadador salvador. Apanhou robalos, douradas, percebes e gente. Hoje, apanha memórias que lhe navegam dentro. Lembra-se de ser menino e de ir com o pai para a pesca. Era feliz. Mas também se lembra de ser menino e de ir com medo para a escola. Era triste. Acácio sofria bullying. “Na altura, ainda não havia essa palavra, mas os mais velhos insultavam-me e batiam-me. Chegaram a atirar-me a bicicleta pela ribanceira abaixo”. Mas Acácio não caiu. Trocou a escola pelo pai e a matemática pelo mar. As contas, essas, foi fazendo-as ao longo da pesca. Havia dias em que apanhava mais de 200kg de percebes. Hoje, o limite é de 20kg por pessoa. “Ganhei dinheiro, mas também ganhei muitos sustos. Um deles veio numa onda que me foi buscar à rocha e me arrastou. Rasgou-me o fato, as costas, os braços e as pernas”. Foram elas que o traíram numa queda a transportar peixe no Prainha, o restaurante de família construído pelo pai há 60 anos. Foi operado, mas uma embolia pulmonar quase lhe tirou a vida. “O que me salvou foi eu ter os pulmões tão saudáveis por ter nadado tantos anos”. Sobreviveu, mas ficou parado. Das pernas e do que lhe ia dentro. “Eu chorava, chorava, chorava… Cheguei a ter consulta de Psiquiatria marcada, mas pensei: «tu és mais forte do que isto tudo». Fui dar umas voltas junto ao mar e atirei os problemas para trás das costas”. O mar foi mesmo tudo para Acácio. A vida, a queda e até a sua terapia.
[uma parceria com a Rede Cultura Leiria 2027]