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wrestling à portuguesa

Comentários fechados em wrestling à portuguesa penthouse

Quando nos disseram que podíamos ver wrestling em Portugal sem ser na TV nem quisemos acreditar. Ainda por cima, com lutadores nacionais. Decidimos tirar tudo a limpo e fomos até Loures.

Estacionamos o carro mesmo em frente ao recinto. É de noite e está um calor estranho, que é como quem diz, um frio dos diabos. Dirigimo-nos para o outro lado da estrada, onde se encontra a pessoa com quem combinámos fazer esta reportagem: Axel, promotor, comentador e ring announcer da World Stars of Wrestling (WSW). Sim, o nome pomposo corresponde a uma liga mundial de wrestling composta por vários lutadores provenientes de todos os cantos do planeta e que tem como principal objectivo a realização de vários eventos de wrestling em vários países. Esta liga teve a sua estreia a 28 de Setembro de 2008, em Grândola. Desta vez, não estamos na “vila morena”, mas na suburbana cidade de Loures. É aqui onde o recinto está armado, ou, para ser mais correcto, onde a tenda está montada. Isso mesmo. Uma tenda de circo, com o formato tradicional e as cores garridas a sublinharem a nossa afirmação, ergue-se num descampado junto ao Loures Shopping. A área é enorme e está vedada por cancelas e camiões. À entrada, Axel apresenta-nos dois homens. À excepção da cor dos blusões (um veste um blusão verde fluorescente e o outro, um azul-escuro) e da notória diferença de idades, os homens são iguais. Mãos nos bolsos, postura hirta, olhos atentos e cabelo preso num rabo de cavalo. A nossa observação não é de todo descabida, visto que são pai e filho. O primeiro é Maximo Luftman, 40 anos, nascido em Itália, como se deduz pelo nome Maximo (que, em Itália, é o equivalente, em abundância, a um José ou a um António), e com raízes austríacas (daí, o apelido Luftman). O filho, Danny, 17 anos, nasceu em Espanha, é introvertido e um dos principais responsáveis pelo bom funcionamento de toda esta máquina. Mas já lá vamos. Primeiro, falemos do pai. Maximo é um homem do circo, honrando as tradições da sua família no papel de palhaço – um dos mais queridos no meio. Porém, a sua vida não se cinge à arte circense. Ele já andou por todo o mundo, tendo montado o mais variado tipo de espectáculos, de exibições e corridas de motas a concertos musicais. Neste âmbito, recorda nomes como os The Scorpions ou os The Kelly Family, bandas que proporcionaram movimentos de massas absolutamente extraordinários. Envolvidos pelas histórias de Maximo, começamos a encontrar história naquela tenda, naqueles panos e em todas as 16 viaturas da Maximo Luftman Wrestling (a empresa por detrás disto) que estão dispersas pelo recinto. Todas possuem os mesmos desenhos, imaginados e pintados por Danny. As labaredas amarelas e vermelhas servem de fundo a vários lutadores de wrestling, entre os quais Batista, Rey Mysterio e Hulk Hogan. “O grande Hulk Hogan, o meu maior ídolo”, afirma Maximo. Mas não só o grafismo dos camiões é da responsabilidade de Danny. Depois de alguma conversa, lá descobrimos que ele é também o responsável por todo o jogo de luz e de som. Foram cinco anos dedicados a uma aprendizagem intensiva… E solitária. Danny é auto-didacta e todo o espectáculo visual que nos apresenta surgiu depois de muitas horas em frente ao computador a aprender todos os programas que lhe permitem, agora, trabalhar com estes sistemas de topo. Como pode calcular, tudo isto supõe um enorme investimento, cujo valor Maximo não nos revela. No entanto, adianta que, só na deslocação de Coina (margem sul) para Loures (cerca de 40 quilómetros), gastou-se mais de 700 euros em combustível. Puxadote…

Preparação

Entramos na tenda. No centro, está um ringue, elevado a cerca de um metro do chão. Em cada canto, almofadas dispostas na vertical e três listas de cordas esticadas a delimitar o espaço. À volta, uma bancada com capacidade para cerca de 150 pessoas e outras tantas cadeiras viradas para o ringue. No total, um espaço para 500 pessoas se sentarem. À entrada, Axel prepara uma banca com vários produtos, de posters a DVD e máscaras. Estes últimos são os mais procurados, em particular pelas crianças, as principais adeptas do espectáculo. Os lutadores começam a chegar, uns sozinhos, outros em grupo, mas todos de saco ao ombro. Deitam um breve olhar ao ringue e dirigem-se aos bastidores. Já lá vamos ter com eles. Agora, é altura de fazer os testes de som e de luz. Uma música, outra música, mais alto, mais baixo, um jogo de luzes, outro jogo de luzes, mais escuro, mais claro. Está afinado. Enquanto isto, Axel grava várias promoções para colocar na Internet (em Sapo.pt, um dos parceiros do WSW).

Nos bastidores

Vamos agora ter com os protagonistas do espectáculo. Os balneários são improvisados, e compostos somente por um pequeno espaço atrás da entrada principal para o ringue. Tiram as roupas dos sacos, começam a vestir as calças, as luvas, as máscaras e, assim que apertam as ligaduras, transformam-se em lutadores. O aquecimento começa: uns sozinhos, outros acompanhados, e é neste momento que tentamos meter conversa com alguns deles. Para começar, calhou-nos “em sorte” Salvador, um rapaz de 21 anos cujo ídolo é ele mesmo. Aliás, quando lhe perguntamos por que razão enveredou por esta modalidade, responde de imediato: “Vi wrestling na televisão, olhei para aqueles franganotes e pensei: Sou bem melhor que eles”. Quando as coisas já estavam a começar a azedar, eis que surge em nossa defesa Seth Rodriguez, um lutador que já conta com mais de 50 combates no corpo. Ainda sem encarnar a sua personagem, diz-nos que já praticou artes marciais e que está a estudar Desporto e a trabalhar num call center. O wrestling é, para si, apenas um passatempo. Por agora, não é preciso atender nenhuma chamada, no entanto, o melhor é estar atento à campainha e ir para o ringue. A honra inicial cabe a Bammer, campeão europeu em título e o mais experiente de todo este leque de lutadores. Bammer – ou, fora do ringue, Bruno Brito – tem 28 anos, começou nisto do wrestling há dez, na escola Tarzan Taborda (o maior ícone da modalidade), passou por Inglaterra e pelo Canadá e, quando regressou a Portugal, em 2007, decidiu abrir a Academia Wrestling Portugal que ensina dezenas de rapazes e raparigas a serem verdadeiros wrestlers. Aliás, a esmagadora maioria destes lutadores estão ligados à sua academia. Mas vamos lá ao combate, que a sineta já tocou.

Combate

O espectáculo tem início e os desaguisados entre os lutadores são o ponto de partida para o que aí vem. De um lado, os “bons”, aqueles que o público (que pagou cerca de cinco euros para aqui estar) aplaude; do outro lado, os “maus”, que recebem todo o tipo de críticas por parte dos mais novos. Os combates sucedem-se e, por entre excepcionais golpes atléticos e uma ou outra provocação ao público presente, os lutadores vão caindo ao tapete. Seth Rodriguez, efusivamente aplaudido pelo público, levou a melhor sobre o convencido e voador Cougar.

O mesmo não pode dizer Ricky, que perdeu com Juan Casanova, numa arbitragem nada imparcial de Pégaso (árbitro convidado): “A organização da WSW achou bem tornar-me o árbitro especial convidado depois de terem visto o quão justo e pio sou. O combate é entre dois grandes atletas: um que é o meu grande amigo vindo de Espanha, o espectacular Juan Casanova, e outro que é um campónio como vocês, Ricky”. Tresanda a imparcialidade, não acha? O combate seguinte envolveu o nosso já conhecido Salvador e o estreante El Rayo Azul. A vitória caiu para o lado do primeiro, o que causou grande revolta no público. Os combates são intervalados por Axel, que faz um breve comentário ao que acabou de acontecer e que projecta os próximos cinco a dez minutos de lambada. Os que se seguiram foram de particular interesse. Como isto não é exclusivo dos homens, seguiu-se um combate entre duas meninas: Alice the Malice e Kelly subiram ao ringue e, para alegria da criançada (e, particularmente, dos pais – os homens, entenda-se), agarraram–se, puxaram cabelos, atiraram-se uma para cima da outra, rebolaram, gritaram, gemeram, abraçaram-se… (OK, é certo que estamos a escrever na Penthouse, mas vamos ficar por aqui). Resumindo e concluindo, foi um espectáculo digno de se ver, com a vitória a sorrir a Alice the Malice, a “má” ou, como o público carinhosamente a chamava, a “Popota”. Para terminar a noite em grande, o espanhol Leo Cristiani desafiou Bammer para o título europeu da WSW. O combate foi um dos mais espectaculares da noite, com piruetas, mortais e cambalhotas, mas não alterou em nada o seu curso natural, terminando com a vitória do português.

Final

Ouve-se a contagem final. Um! O árbitro está deitado no chão a olhar para nós. Os lutadores descem do ringue e vão até aos balneários para descansarem. Dois! a segunda vez que o árbitro leva a mão ao tapete. Minutos depois, os lutadores juntam-se ao público para distribuir alguns autógrafos. As crianças saltam das cadeiras e cumprimentam os ídolos. Compram máscaras e posters. A música continua. Três! O árbitro bate com a mão no chão pela terceira vez. Fim do artigo. Estamos eliminados. Vitória claríssima do leitor, que acabou o texto sem nunca ter ido ao tapete e sem levar um único sopapo nos queixos.

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