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bloco de notas
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tudo em todo o lado

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Ainda não vi «Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo». Mas vi «Indiana Jones e o Templo Perdido» mais de duzentas vezes. Sem exagero. Quando andava na quarta classe, chegava a casa, pegava na cassete VHS e via o filme. Todos os dias. Todos. Os. Dias. E obrigava toda a gente que estivesse comigo a ver o filme também. Sei as falas de cor. Os gritos, as danças, os sustos, os arrotos, um, de um tipo após chuchar um escaravelho ao jantar, os abraços. Voltar a ver o miúdo a abraçar o Indiana Jones é voltar a ser o miúdo que andava na quarta classe, que chegava a casa, que pegava na cassete VHS e que via o filme. Todos os dias. E tomar consciência de que isto da vida passa rápido como o raio. «Fortune and glory, kid. Fortune and glory.»

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não aleija ninguém

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O movimento pela linguagem inclusiva, seja lá isso o que for, diz que o O é machismo tóxico, que o A é feminismo liberal as mulheres é que são inteligentes sexo fraco mas no fundo forte coitadinhas e que o E é neutro e não aleija ninguém. A verdade é que, por vezes, o O é feminismo liberal as mulheres é que são inteligentes sexo fraco mas no fundo forte coitadinhas, o A é machismo tóxico e o E tanto é neutro e não aleija ninguém como machismo tóxico como feminismo liberal as mulheres é que são inteligentes sexo fraco mas no fundo forte coitadinhas. E nem vou falar do I e do U. Não por não ter paciência, que não tenho, mas porque é muito provável que este movimento pela linguagem inclusiva não saiba da sua existência. Portanto, este é um movimento inclusivo que não inclui, exclui: letras e inteligência.

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um homem vulgar

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Vim a Lisboa. Consulta de Psiquiatria, nada de mais. Estacionei o carro e procurei um sítio onde almoçar. Ao pé da Penthouse, onde trabalhei e que já não existe, sim, javardice, havia uma tasca, aonde ia todos os dias. Já não há. Desilusão. Segui pela rua, uma porta aberta, por que não? Tasca, ainda mais tasca do que a outra. Vitela assada e. Eu sei o que o senhor quer. Maravilha. Um jarrinho de tinto, um lugar sozinho num canto. E eu sozinho. Chega o Camané, sim, o Camané. Senta-se ao meu lado. Quero dizer-lhe qualquer coisa. Pensa. Diz algo incrível. Diz que o admiras, diz que escreves, diz boa tarde. E digo, claro. Olá, não lhe posso agradecer a sua arte. Obrigado. Obrigado eu. Raios. Não lhe posso agradecer? Não lhe posso deixar de agradecer. Deixar de agradecer! Não lhe posso deixar de agradecer a sua arte. (E nem sei se o lugar do lhe é ali. Pouco importa.) Palerma. Está dito, está dito. Ele disse obrigado, talvez não tenha percebido bem. Era só eu, uma vulgaridade, a fazer-lhe uma atabalhoada declaração de amor. Como tantas outras vulgaridades, como tantas outras declarações de amor. E ele ali. Um homem vulgar, também, envergonhado, a ajudar uma família francesa a escolher o que comer. Carne de porco à portuguesa e bacalhau à braz. A família não sabia quem ele era. Ele não disse quem ele era. Merci. Aqui tem, senhor Camané, bom proveito. Iscas. Almoçou e foi embora. Antes de ir, olhou para mim e disse-me adeus, como se fôssemos velhos desconhecidos que se conhecem por aí. Eu disse adeus de volta e escrevi. Mais um jarrinho, por favor, se houver. Então não há? Quando acabar aqui o vinho, está o Tejo sem água. E eu ainda sem saber o que lhe dizer.

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cativeiro: privação

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Uma menor foi raptada por um homem de 48 anos, que a manteve em cativeiro durante oito meses. Para que fique esclarecido, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa, «rapto: acto de tirar alguém de casa ou do local onde se encontra, através de violência, de ameaça ou de engano» e «cativeiro: privação da liberdade sem obrigação de servidão».

Para a Comunicação Social, é óbvio quem é o culpado. Não, não é o homem de 48 anos que raptou a menor de idade. Coitado do homem, ele só queria companhia. Aliás, segundo a TVI, «Luana tem uma dependência de jogos online e terá sido isso que a motivou a sair de casa». Ou seja, foi o Jogo Online que a levou a ser raptada. Para a Comunicação Social, o culpado é, claramente, o Jogo Online. É já um Fatality a esse monstro!

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uma espécie de âncora

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Ligo a televisão apenas para me dar uma noção de tempo. Não vejo o que lá está, mas tenho de saber que lá está. Qualquer coisa, não sei o quê, não me interessa, mas está. E o que quer que lá esteja está a viver o mesmo tempo que eu. E eu preciso de saber que o tempo é o mesmo, que a realidade não parou nem correu. A televisão é, para mim, uma espécie de âncora sem corrente que me prende ao tempo, à vida. Mesmo sabendo que não há outra coisa além dela. Ligo a televisão para ver se eu não me desligo de mim.

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a arte tem que ser arte

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A arte não tem que ser inclusiva. A arte tem que ser arte. Inclui-se quem sentir a arte como ela, cada uma, é. Não se inclui quem não a sente. A obrigação do que quer que seja na arte é uma contradição da arte em si. Quem diz que a arte deve ser outra coisa que não arte é porque não sabe que coisa ela é.

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qualquer coisa e um coração

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Fiz 38 anos. Não estava à espera. Ainda ontem tinha 18. O tempo é tramado. Passa e nem damos por ele. Pensando melhor, melhor assim, talvez – ele ir passando sem lhe darmos muita atenção. Gostaria de ter tantas idades outra vez. Ou talvez não. O tempo faz o que tem a fazer e eu tenho a idade que tiver de ter, nunca deixando de ser quem sou. Sei lá eu quem sou. Qualquer coisa e um coração. Saudades, ansiedades e instantes. Uma confusão.

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o teólogo inteligente

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«Bento XVI, o teólogo inteligente.» Esta frase tem sido dita por toda a gente em todo o lugar. Tem graça. Por um lado, ao dizer-se «teólogo inteligente», está a dizer-se que é invulgar os teólogos serem inteligentes. Por outro lado, ao dizer-se «teólogo inteligente», está a assumir-se que há teólogos inteligentes. A Teologia é «a ciência da religião». A Ciência é «o conjunto de conhecimentos fundados sobre princípios certos». A Religião não é um «princípio certo». A Teologia é uma contradição em si. Um «teólogo inteligente» também. Tem graça (não a divina – se fosse essa, não teria por, simplesmente, não existir).

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o meu sonho sempre foi

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O meu sonho sempre foi ser o meu pai. Ainda é. Ele ainda está. E eu ainda sonho. Mas o tempo passa e eu, por obra e graça de alguém ou de ninguém ou, sendo de alguém, será de mim, sou tristonho. Talvez por eu ser, talvez de nascença, assim. Qualquer parecença com o meu pai é só coincidência. Ele fica e vai com a mesma urgência de viver. Ele existe, luta, também cai, mas não se deixa vencer. Não por ser super-herói, mas por transformar tudo aquilo que lhe dói em alegria, por vezes aparente, como é vulgar acontecer, mas numa espécie de magia de ficar contente, sem doer. Nem um ai. Nem um André. O meu sonho sempre foi ser o meu pai. Ainda é. E ele ainda está. Um dia, serei. Só não sei quando será. Quando for, que, entre mim e o meu pai, tudo o que há é amor.

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nenhum deles voltou

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No mesmo avião, foram 26 jogadores. No mesmo avião, voltaram 14. A ganhar o Mundial, para festejar e para receber aplausos e notas, teriam voltado, no mesmo avião, os mesmos 26 jogadores que partiram. Perdendo o Mundial, voltaram apenas os que se sentiram verdadeiramente derrotados, verdadeiramente nobres. Os outros, certamente desolados, coitadinhos, ficaram tristes, tão tristes, a festejar no lugar onde nenhum deles perdeu, porque nenhum deles voltou.

Imagem: Fauzan Saari

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sempre só com ele

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Não é por não marcar nem por não jogar como jogava. É por festejar e por chorar como sempre o fez: sozinho. Nunca foi pelas equipas nem pela Selecção, sempre foi só por ele. Ronaldo existe sozinho. Sempre existiu. Para ele, os outros não existem. Por muito que tenha contribuído para o sucesso das equipas e da Selecção, ele sempre existiu só para ele. Por isso é que, festejando ou chorando, ele nunca está com os outros. Está sempre só com ele. E ele está como sempre esteve: sozinho.

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a tragédia começa no nariz

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Tenho o nariz entupido. Tenho medo de morrer. Um clássico, eu sei. Sou homem e os homens não podem apanhar uma gripezinha que ficam logo não sei quê inserir clichê dito por mulheres que são todas muito fortes. Eu não sou. Nem mulher nem forte. Não neste caso que, para mim, é de vida ou morte. E não me ajuda nada falar ou escrever sobre isto porque, falando ou escrevendo, estou a lembrar-me constantemente de que tenho o nariz entupido e de que, ordem natural das coisas, vou morrer. Então falo e escrevo sobre isto, que esperteza. Acho que nunca nenhuma pessoa morreu por ter o nariz entupido, mas eu tenho sempre a forte convicção de que eu serei a primeira. Por isso é que, há coisa de meia hora, depois de ter passado o efeito de umas super gotas, saí do quentinho da minha casa para partir em busca de uma caixa de victans. Se é para morrer por culpa do nariz entupido, ao menos que esteja drogado, a dormir. Também encontrei uma pomada toda ninja. E tenho livros e um gato e um caderno onde aponto o que encontro e me apetece guardar. «”A comédia começa nas pernas”, Jacques Tati». (Só aponto o que encontro no caderno, não no gato, por vezes nos livros.) Sou capaz de morrer um dia destes, nunca se sabe. Já sei. A tragédia começa no nariz, André Pereira.

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uma noite e uma tarde

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Uma noite e uma tarde no Teatro da Comuna. Sozinha, com tanta gente ao lado, a Maria riu, cantou e chorou. E fez com que tanta gente tivesse rido, cantado e chorado – a toda esta gente eu só posso dizer obrigado. Eu, que apenas escrevi e ajudei a criar, ri, cantei e fartei-me de chorar. Culpa da Neide, Maria sem lugar.

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palavra de honra

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JÁ NÃO HÁ PACIÊNCIA… para abacate. É abacate ao pequeno-almoço, abacate ao almoço, abacate ao lanche, abacate ao jantar, abacate na torrada, abacate no frango, abacate no soro da quimioterapia… Raios partam o abacate.

DETESTO… ter o nariz entupido e tomar decisões. 

A IDEIA… é bastante polémica, não sei se o mundo está preparado para ela, mas cá vai: não sair da zona de conforto. Se é zona de conforto, e se conforto significa prazer, por que raio é que temos de sair de lá?

QUESTIONO-ME SE… é assim tão saudável eu questionar-me. Se não seria preferível eu andar por aí a fazer perguntas aos outros e não a mim.

ADORO… não ter o nariz entupido e tomar decisões.

LEMBRO-ME TANTAS VEZES… de jogar num campo que ainda existe, mas que o Presidente da minha terra diz que não.

DESEJO SECRETAMENTE… nada. Desejo sempre de forma pública. Um beijo, Lúcia Moniz.

TENHO SAUDADES… de ambientes que não são intimistas, de exposições que não são imersivas e de amigos que não são amigos dos seus amigos.

O MEDO QUE TIVE… quando, a 11 de Maio de 2013, vi o Roderick Miranda a aquecer… Confirmou-se.  

SINTO VERGONHA ALHEIA… de quem leu este início de frase e disse vergonha alheira.  

O FUTURO… a Deus pertence, claro está, visto que nem um nem outro existem.

SE EU ENCONTRAR… a palavra Liberdade no primeiro discurso de Paulo Raimundo como secretário-geral do PCP, inscrevo-me no Partido*. Até agora, ainda só encontrei as palavras Força 18 vezes e Luta 21 vezes. *10 vezes

PROMETO… uma feira medieval e uma cidade sobre rodas todos os fins-de-semana. Votem em mim!

TENHO ORGULHO… orgulho em ser uma vaca. (Assim mesmo, com dois orgulhos.) A frase não é minha. Nem de nenhuma amiga. É da Vaca Glória, da Rua Sésamo. É parte da letra de uma canção que está na minha cabeça desde os anos 90.

Jornal de Leiria

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dói-dói no menino

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O Ronaldo sente-se muito injustiçado, coitadinho. Então, como qualquer adulto que se sente injustiçado, decide fazer birra. Diz que não treina, diz que não joga e tudo o que tem a dizer não diz a quem deve, diz na televisão. Sai de casa, bate com a porta, chora, grita, faz queixinhas e deixa o clube a arder. Esconde-se debaixo das saias da mamã Fernando Santos, pede colinho aos meninos da Selecção e espera que alguém olhe para ele e lhe dê o brinquedo que ele tanto quer: voltar a ser reconhecido como o melhor. O que lhe interessa não é o que ele pensa que é, é o que os outros pensam. E os outros, pelo menos os mais lúcidos, já não pensam que ele é o melhor. E isso faz dói-dói no menino. O Ronaldo, que sempre foi de jogar, lutar e marcar, está, neste momento, a rebolar no chão por uma falta que não existiu. Ele é que tropeçou nele próprio.

Imagem: AFP

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a ditadura da ignorância

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Toda a gente que vota no Bolsonaro é apoiante do Bolsonaro. Nem toda a gente que vota no Lula é apoiante do Lula. Esta é uma eleição de um só candidato. O outro é só o pouco que se arranjou para impedir a ditadura da ignorância. Triste Brasil que deixa a alegria para o samba.

Imagem: Helder Oliveira

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isto não é um campo

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«Isto não é um campo.» O Presidente da União das Freguesias da minha terra olha para o Parque de Jogos do Sport Clube Leiria e Marrazes e diz que não é um campo. Ao dizer que não é um campo, o Presidente da União das Freguesias da minha terra está a dizer muito mais. Por detrás destas palavras, como por detrás do muro trancado a cadeado e vedado a tijolos, vejo outras palavras: desrespeito, desprezo, ingratidão. Vejo todas elas por toda a História do clube e da terra, por todas as pessoas que construíram o campo e por todas as pessoas que por lá passaram e que por lá fizeram e deram vida. Por detrás do muro das palavras «isto não é um campo», vejo uma lixeira mais suja do que aquela que o Presidente da União das Freguesias da minha terra deixou alastrar no Parque de Jogos do Sport Clube Leiria e Marrazes. Para ele, «isto não é um campo». Para mim, isto não é um presidente.

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santiago, para outro lugar

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Há duas velocidades nesta história, a do caminho e a do confronto. Demora até lá chegar. Quando lá chega, vai de repente para outro lugar. Mas, seja qual for a velocidade a que se caminha, há talento. Na ideia e na criação – a de quem não aparece e a de quem dá a cara, a voz e tudo o resto que um actor dá para que tudo pareça real. E para que nós caminhemos com ele. A Lúcia leva-nos pela mão durante este primeiro episódio. Aperta-a com força e não a larga (parece que aperta a mão do Ivo – que também nos leva – mas é a nossa). É uma espécie de encantamento que nos faz ir com ela. É tão leve a ir de um lugar de dentro a outro e tão pesada a parecer o que é em cada lugar. É uma ilusão constante, com aquele ar de menina bonita e frágil que não faz mal a ninguém, e nós ali, a olhar para ela e, num instante, é ela que nos tem. Como a Leonor, a Lourdes da história. Quase não fala, nem tem de falar. Tem um carisma que fala por ela, uma inquietação que passa para quem a vê, mesmo que ela esteja no cantinho do plano. Mais um bonito engano. E, por falar em beleza, César Mourão. (Este elogio tem o patrocínio de mais convites destes.) Faz tudo bem (aqui, fez a ideia e a produção), à excepção de escolher agremiações clubísticas. Desafiou-me a ir e desafiou-me a terminar o texto que eu iria escrever, este, com as próximas palavras sobre o primeiro episódio de Santiago. São estas, mas não são apenas sobre o que estava no ecrã. São, também, sobre ele. (Ainda bem que não é.): «Se é português? É, mas podia não ser.»
 
| SANTIAGO. Realização: @pedrovarelalx; Criação: @cesartmourao@diogovbrito e @ines.o.braga; Produção: @313features@blanchefilmes e @sicoficial; Argumento: @ines.o.braga@pedrompgoulao e @pedrovarelalx; Elenco: @luciamoniz@ivocanelas@_barbarabranco_ , @carla_maciel_strangles@leonor_vasconcelos e outros que são tantos que eu não os escrevo aqui que não há espaço – encontrem-nos na @opto.sic |

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não sou de lugar nenhum

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Acho que escolhemos de onde somos pelo lugar onde gostaríamos de morrer. Eu não gostaria de morrer em lugar nenhum. Não sou de lugar nenhum. Nasci onde não estou. Morrerei no lugar onde não gostaria de morrer. Quando lá estou, no lugar onde nasci, sou de longe. Quando estou aqui, sou de longe também. Acho que sou sempre do lugar onde não estou. Nem é estar bem onde não estou ou querer ir aonde não vou. Não é isso. É não estar onde estou, é não ir para onde vou. O meu lugar é sempre lá, longe. Não longe de mim, longe daqui. E aqui é em todo o lugar. E eu sem lá estar.

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magia com os pés

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Foi bonito voltar. E cansativo como o raio. Já não me lembrava da necessidade de correr para jogar à bola. Em boa verdade, já não me lembrava da necessidade de saber jogar à bola para jogar à bola. A bola estava vazia, era isso. E não tinha as dimensões adequadas para a prática do futebol de elite que se esperava ver no Campo nº1 da Aldeia do Desporto do Sport Clube Leiria e Marrazes. O relvado também não estava em condições, claro que não. Era relvado, eu sou vedeta é em pelado. No entanto, houve rasgos de magia, em particular quando a bola desapareceu uma série de vezes para o pinhal, e rasgos de um ou outro músculo que agora não se acusa mas que amanhã, ao acordar, vai dizer bom dia aos gritos. Foram, aliás, gritos, estes de entusiasmo e de regozijo (bem, talvez tenham sido todos de espanto), que eu ouvi depois de, na sequência de um cruzamento milimétrico vindo da ala direita, eu ter efectuado um exímio movimento técnico de cabeça que fez a bola balançar as redes. Sem hipótese de defesa. Incrível. Primeiro golo de cabeça que marquei na vida. Primeiro golo do primeiro treino do regresso das Velhas Guardas do clube da minha vida. Foi bonito voltar. Obrigado a quem me recebeu – e a quem compreendeu esta minha forma muito peculiar de fazer magia com os pés.

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a partícula de deus

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O sistema de senhas do Hospital de Leiria é um dos grandes mistérios da Humanidade. E ainda bem. Porque, tendo em conta as horas de espera naquelas cadeiras de plástico viradas para um ecrã a mostrar como lavar as mãos, sempre vamos ocupando a cabeça a tentar decifrar este enigma da ordem de chamada. A minha senha M0288 foi chamada antes da senha M009 e depois da senha M978152726388. A culpa é minha, eu sei. Eu é que ainda não percebi a razão para este complexo sistema de funcionamento de anunciação, anunciamento, anunciamentação, sei lá, estou cansado, do número da senha. Certamente, há uma organização perfeita, funcional, eficiente, produtiva, prolífera, profícua, válida, resumindo, ao calhas que explica isto. Eu é que não percebo – e estava ali para tratar do ombro, não da cabeça. Na verdade, nem eu nem ninguém percebe. E é essa incompreensão de algo que deveria ser facilmente compreendido que faz com que eu aplauda este sistema de senhas todo ninja criado pelos génios da informática hospitalar. As pessoas estão ali sem fazer nada, horas e horas e horas e horas à espera de uma consulta de cinco minutos para ouvirem ah dói-lhe o ombro?, então temos de tratar disso, muito obrigado, senhor doutor, novidade do caralho, ponha gelo e tente não tocar onde lhe dói, vamos fazer análises, a próxima consulta é já em 2025. Bem, já estou a escrever demasiado e o meu ombro já está a gritar, estou velho, mas as pessoas também e estão ali à espera. Então, fazem um sudoku da compreensão do mecanismo inteligentíssimo de senhas. Em vez de tirarem um curso e irem para o CERN tentar decifrar a partícula de deus, arranjam uma tendinite e vão para o hospital tentar decifrar a partícula do totoloto das senhas. Bem, vou aproveitar e tirar senha para Psiquiatria.

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fartinho de chorar

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Ainda éramos miúdos, ainda jogávamos, cada um na sua modalidade, quando o Simão me ofereceu o seu stick de hóquei – já não o usava, e achou que ficaria melhor nas mãos de quem nunca o iria usar. Eu nunca soube jogar. Nunca soube, sequer, andar de patins. Mas aquele stick que ele me deu, e eu nunca lhe disse isto, foi uma das coisas mais bonitas que recebi. Guardo-a como uma relíquia. Sei do Simão desde sempre. Das brincadeiras, das escolas, das férias, das catequeses, das festas, das ruas, dos Marrazes – da paixão pela terra, da paixão pelo clube. Conheço muita gente apaixonada, não conheço ninguém com a paixão do Simão. Uma paixão que vem do amor imenso, que lhe vem da história, pela sua gente e pela sua camisola – mesmo quando foram outras que vestiu. O Simão é o Simão porque, à paixão do amor, sabe ter o trabalho, a humildade, o profissionalismo, a exigência, a seriedade e tantas outras qualidades, e defeitos, claro, como qualquer ser humano que se preze, que fazem dele quem ele é. A nossa equipa de hóquei garantiu a subida à Segunda Divisão. Ele é o treinador. Ele, um puto da minha idade a ser treinador dos seniores. Estamos velhos. No domingo, eu vi o Simão como poucas vezes vi. Feliz da vida, fartinho de chorar. Ao seu lado, dentro dele, toda a gente – atletas, amigos, dirigentes, adeptos, família – que lutaram por esta alegria com tudo o que tinham, acima de tudo, suor. Pela nossa terra, pelo nosso clube. Com o nosso Simão.

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fausto, ninguém dança

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“Fausto” é uma peça de teatro que é uma peça de dança. Ninguém dança nesta peça. Mas tudo o que acontece não pode ter outra definição. Dança quem representa, quem entra e sai, dança quem nem sequer tenta, quem vai andando por ali à procura do seu papel na plateia que não há, porque apenas há palco. E todos dançamos como se fôssemos todas as personagens que ali estão. Ninguém dança, é tudo invenção. Mas acreditamos que sim, que dançamos – toda a gente. Culpa e talento de quem nos faz dançar. O Diabo não existe. O Hugo só existe com ele. Não poderia ser outro a vestir-lhe a carne – a que anda, a que corre, a que sorri, a que ri, a que grita, a que fala, a que canta, a que sussurra, a que range, a que beija, a que morde, a que desaparece. “Fausto” tem arte em muitos lugares e em muitas pessoas. O Hugo, sendo este Diabo que não existe, é arte de todos os lugares e de todas as pessoas. Pelo meio de todos eles e de todas elas, lá vai dançando e lá vai fazendo dançar como se esta dança da representação fosse, para ele, uma infantil forma de brincar. O Hugo agarra toda a gente pela boca e não deixa ninguém respirar ao longo de toda a peça. Ele é personagem de dentro e é personagem de fora, de quem representa e de quem não. É uma espécie de encenador em pontas que vai dizendo o que devemos fazer, pensar, temer e venerar. O Diabo não existe e poderia ser outra pessoa, como é em todas as outras representações de “Fausto”. Mas, quando o Hugo dança, ninguém sabe dançar.

| “Fausto”, no Teatro da Comuna. Texto de Goethe, com adaptação e direcção de João Mota. Interpretação de Hugo Franco, Carlos Paulo, Rogério Vale, Luís Garcia, Miguel Sermão, Gonçalo Botelho, Francisco Pereira de Almeida, Ana Lúcia Palminha e Patrícia Fonseca. Cenografia de Renato Godinho |

Fotografia: Bruno Simão

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não chorei, claro que não

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Não chorei, claro que não. Eu sou lá gajo de choradeiras. Este puto, que este domingo deixou a bola, é o puto que, há mais de trinta anos, me deixou na pré-primária para ir para a escola dos maiores. Naquele dia, eu chorei. Neste, não chorei, claro que não. Nem disfarcei nem nada. Nem me lembrei das futeboladas de rua, com pedras a fazer de baliza. Nem dos passes teleguiados deste menino para os golos deste puto. Há provas. O meu pai filmou alguns jogos ao lado do pai do Miguel. E as mães ao lado uma da outra. Só partilhávamos um ano por escalão. Ele descia a equipa, eu subia. Miguel, sabes que é verdade. Mas também é verdade que ele dava uma magia diferente àquela magia que é o futebol. Mesmo em campos de terra, com linhas tortas, sem relva. À homem. À garoto. Não conheço ninguém que não goste do Miguel. Também não me lembrei da escola. Nem dos copos. Não vale a pena falar disso agora. Felizmente, não há provas. Só tive um clube, o Sport Clube Leiria e Marrazes. O Miguel teve outros, mas só teve um. Este clube deu-nos família. Eu já tinha, e ainda tenho, o Miguel.

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nada a não ser ver sofrer

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Não decorei o texto. Não subi a palco. Não representei. Não tenho como agradecer à Neide, que fez tudo isto por uma personagem que eu apenas escrevi. Não fiz nada a não ser ver sofrer, sofrendo também. Custou-me a antecipação das luzes. Doeu-me a barriga. Tive prazer. Disse todas as palavras que a Maria disse. Fiz todas as marcações que a Neide fez. Fui o que ela foi. Estive onde elas estiveram. Ver a Maria viva, real, criada pelo nervo e pelo corpo da Neide, foi de uma estranheza tão assustadora quanto bonita. Como ela é. Como elas são. As duas. E toda a gente que encheu a sala. Não tenho como agradecer a ninguém. Ela sem lugar, e eu sem palavras.

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do choro uma coisa bonita

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A Carminho tem o dom de chorar com a garganta. Quando canta, faz do choro uma coisa bonita com todo o desespero e com todo o prazer que só a beleza tem. A voz da Carminho é verdade, e é ela que vem quando ela a chama. Ela não embala, estremece. É uma voz que cala quem não a esquece e a continua a lembrar mesmo depois de ela deixar de cantar. A voz da Carminho é uma espécie de lágrima arrastada arrancada ao coração. Não precisa de mais nada. Só assim, já é canção.

A Carminho veio ao Teatro José Lúcio da Silva cantar com a Orquestra Jazz de Leiria. Chorou com a garganta, mas pouco se ouviu, porque se ouvia o que não se deveria ouvir, o típico virtuosismo gabarola de quem tem talento a tocar, mas não o tem a compreender o que se ouve, o choro. É habitual em quem procura mais o aplauso do que a emoção, por só encontrar a sua vaidade no lugar do coração. A Carminho veio sozinha e foi sozinha que ela esteve em palco – apesar de toda a gente que o pisava. Eles não ouviam, mas ela chorava.

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vitorino sem angústias

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Tenho a impressão de que o meu gato sabe tudo da vida e por isso é que não anda para aí com angústias sobre o que é ou deixa de ser. Limita-se a viver, e viver assim, desta maneira, parece-me ser demonstração de uma inteligência fora do vulgar, inteira. Desde que tenha comida e protecção, o meu gato está onde tem de estar, aqui, e é o que tem de ser, feliz. É, pelo menos, o que me parece. Tem, também, um ou outro coração que lhe dá colinho, festinhas e algumas palmadas – que tantas vezes merece, tantas vezes de mim -, e isso é capaz de ajudar à minha crença de que ele é feliz. Espero que sim. Ele não me diz.

Vitorino, a viver sem angústias – e com algumas palmadas, que tantas vezes merece – desde 17 de Março de 2016.

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é a maria, e a maria sou eu

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A Neide é a Maria, e a Maria sou eu – eu sou sempre o que escrevo, e a Neide é sempre o que ela quiser. Ela pediu-me palavras, eu escrevi Maria. Sem lugar.

MARIA SEM LUGAR
Teatro, Monólogo
25 de Março, 21h
Auditório Municipal Padre Bento da Guia, Moimenta da Beira

Sinopse: Maria não tem lugar porque não sabe que lugar é o seu. Maria tem dúvidas sobre o que é e sobre o que quer, mas tem certezas de que o seu lugar nunca é o lugar onde ela está. Ao longo de 40 minutos, Maria desabafa a sua normalidade que tanto parece anormal aos olhos do mundo segmentado e polarizado dos dias de hoje. Uma mulher e algumas palavras num palco que, naturalmente, também não sente como seu.

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quietinhos e caladinhos

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Hoje é o Dia da Mulher. Mas, homens, muita atenção! Não podemos dizer que hoje é o Dia da Mulher. Qualquer menção ao Dia da Mulher, qualquer gesto de carinho para com a mulher neste dia, apenas vai reforçar a discriminação do homem em relação à mulher por haver um Dia da Mulher. Portanto, nada de dizer que hoje é o Dia da Mulher. E nada de gestos carinhosos, de beijos, de poemas, de chocolates, de flores, de jantares. Não devemos pronunciar Dia da Mulher em lado nenhum, em nenhum momento. É discriminatório. Reforça a desigualdade. A mulher que aproveita o Dia da Mulher para condenar o Dia da Mulher não quer que o homem aproveite o Dia da Mulher para elogiar a mulher. Deixemos a mulher criticar, no Dia da Mulher, quem utiliza o Dia da Mulher para não a criticar. Deixemos a mulher usar o Dia da Mulher como bastião de uma relevância que a mulher não precisa de ter (pela simples razão de a mulher já ser igual e não precisar de nenhum dia para que essa evidência seja realçada) para ela criticar quem usa o Dia da Mulher como bastião de uma relevância que a mulher não precisa de ter (pela simples razão de a mulher já ser igual e não precisar de nenhum dia para que essa evidência seja realçada). Hoje é o Dia da Mulher. Mas, homens, muita atenção! Vamos defender a igualdade, obedecendo, quietinhos e caladinhos, às ordens da mulher.

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não ter medo não existe

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Não ter medo não existe. Todos temos medo. Quem foge e quem luta. Quem diz que não tem medo não quer dizer que não tem medo, quer dizer que tem coragem. “Não tenhas medo”, “Por que é que tens medo?”, “Não sejas medricas” são frases de uma narrativa da fraqueza sobre o medo que nos é metida pela goela abaixo desde o berço. Ter medo não é fraqueza. Só é corajoso quem tem noção do perigo que enfrenta e que teme. Não é corajoso quem enfrenta o que não faz mal, o inofensivo. A coragem vem da noção da existência do medo, não da sua negação. Todos temos medo. Sobretudo quem acha que não.

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só um bocadinho

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Um garoto a curtir Moonspell. Cinco anitos, mais coisa menos coisa, de mini-metaleiro empoleirado aos ombros da mãe. Eu, mais velho um bocadinho, quase nada, fui também aquele pirralho de cabelo em pé e deditos trocados no ar. Foi bom voltar a sentir aquela inocência de quem ouve metal pela primeira vez. Caraças, que maravilha, bateria, guitarra, baixo, teclas, voz, potência, irmandade e delicadeza. Fiquei à beira de chorar mas, como bom metaleiro que sou, chorei mesmo. Só um bocadinho, quase nada.

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génio e sombra de génio

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Hipólito, Fedra, Teseu, pouco importa. Poderia ser João, Maria, Manuel. Importa a culpa. Só ela, sempre ela, do princípio ao fim da peça, do princípio ao depois do fim das personagens. A culpa assumida por Fedra por estar apaixonada por quem não deveria estar, a culpa atirada a Hipólito por não venerar uma deusa que deveria venerar e por desejar uma humana que nunca desejou e nunca teve, a culpa escondida de Teseu por ter condenado à morte quem não merecia morrer. Fedra escolhe a morte, Hipólito rende-se a ela, Teseu morre deixando-se viver. Há palavras e gestos que não são deste tempo, tal como há génio e sombra de génio que não deveriam existir no mesmo palco. E isso importa, apesar de tudo. E tudo é culpa. Não deixando de ser teatro.

| “Hipólito”, pela Companhia de Teatro de Almada, no Teatro Municipal Joaquim Benite. Texto de Eurípides, encenação de Rogério de Carvalho, interpretação de Carolina Dominguez, Cláudio da Silva, Elsa Valentim, Joana Francampos, Marques Arede, Miguel Eloy, Pedro Fiuza, Sofia Correia e Teresa Gafeira |

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palavra bonita dita pela boca

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António Costa, rejeitando qualquer conversa com o CHEGA, está a rejeitar qualquer conversa com 385.559 pessoas. Para ele, por pensarem diferente, estas pessoas não existem. Ele não diz que elas têm ideias diferentes – isso ele diz sobre todas as outras que votaram noutros partidos ou que não votaram, de todo. O que ele diz é que esta gente que votou neste não existe. É vazio. É nada. Ele nem considera a hipótese de tentar perceber as razões para esta gente ter as ideias que tem – ou, não as tendo, ter votado em quem votou. Ele, simplesmente, olha para o lado e finge, dizendo, que esta gente não existe. É ele que diz ser o primeiro-ministro de todos os portugueses. É ele que tem o dever de o ser – mesmo daqueles que têm ideias diferentes, por muito abjectas que possam parecer ou ser. António Costa, rejeitando qualquer conversa com o CHEGA, está a rejeitar aquilo que diz defender: a democracia, a igualdade, a liberdade – nada disto pode ser apenas palavra bonita dita pela boca de qualquer um. Tudo isto deve ser dito por inteiro, com toda a definição que tem. Catalogar parte do seu povo como inexistência é catalogar-se como isento de pensamento, de tolerância e de humanidade. Rejeitar quem é como nós – porque somos todos iguais, ou não somos? – é rejeitar-se a si próprio. É assumir uma única inexistência, a sua.

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benfica vs. benfica

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Se aquele golo tivesse contado, talvez o Benfica tivesse vencido. Mas duvido que tivesse começado a jogar um futebol incrível. O Benfica tem sido prejudicado uma ou outra vez pela arbitragem, mas não me parece que isso tenha assim tanta relevância. A arbitragem é sempre o bode expiatório de qualquer clube que está mal. É a tal necessidade de um vilão. A História explica isso, como diria o filósofo António Costa. E essa explicação vai da realidade à banda desenhada – o Batman não seria tão herói se o Joker não fosse tão vilão. Quando o Benfica não tem hipóteses de ter o Sporting nem o FCPorto como vilões (tendo em conta as distâncias pontual e de futebol praticado), atribui esse papel à arbitragem. Esta atitude de transferir o alvo para outro que não para si é natural no comportamento humano, mas não é uma inevitabilidade. Mas, ao que parece, parte da nação benfiquista acha que sim – ou melhor, não acha, aceita sem pensar em achar o que quer que seja. Mas só aceita porque não pensa, ou porque pensa mal. Porque, na verdade, o vilão do Benfica é o Benfica. E isso, se já custa pensar, custa ainda mais assumir. Mas é a verdade, é o passe a rasgar. E é o único caminho para o crescimento, para o golo.

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somos todos chega

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Ao longo do ano, somos todos CHEGA: todos criticamos, provocamos, insultamos quem nos governa. Cuspimos frases feitas, sem conteúdo, sem noção e sem saber. Assim que uma pessoa igual a nós faz exactamente o mesmo que nós, mas na televisão, à frente de um partido, com gente aos ombros, nós deixamos de ser CHEGA. O nosso ódio ao CHEGA não vem do que ele diz ou defende. O nosso ódio ao CHEGA vem da nossa parecença com a gente que faz dele o que ele é. Não somos contra ele, somos contra nós. E bem. Mas seria saudável, e inteligente, se tivéssemos coragem para o admitir.

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não votar também é votar

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Não votar também é votar. Quem não se interessa, quem não quer saber, quem não acredita, quem é contra, toda esta gente que não vota por não querer é gente que diz tanto como a gente que vota. Eu voto. Acho que toda a gente deveria votar. Mas também acho que, se nem toda a gente o faz, que é tanta, e se devemos caminhar para uma sociedade que seja representativa de toda a gente, devemos aceitar quem não se interessa, quem não quer saber, quem não acredita e quem é contra. Que não votar também é votar.

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nem os homens são iguais

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A doença da esquerda é acreditar na fábula da igualdade. A doença da direita é acreditar na fábula da superioridade. A esquerda diz-se superior por defender a igualdade dos homens. A direita diz-se igual para defender a superioridade além dos homens. Ambas defendem a utopia. Nem os homens são iguais, nem há nada acima deles. A doença da esquerda é a mesma doença da direita: uma absoluta aversão à humanidade.

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a aceitação do caos

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Tenho de aceitar este meu caos. Gostava, ou gostaria?, está bem das duas maneiras, mas uma é mais certa do que a outra, será que é certo afirmar que uma maneira é mais certa do que a outra?, não necessariamente uma maneira, mas alguma coisa ser mais certa do que outra coisa, assumindo que ambas são certas?, se ambas são certas, o que interessa além daí?, é como usar pontos de interrogação a meio de frases, ou letras minúsculas ou vírgulas depois de pontos de interrogação, será?, não sei, ou não usar pontos finais, cuspir na, pontuação; certa! e andar por: aí escrevendo o que bem me apetecesse da maneira que bem mapetcêsse, caraças, usei o gerúndio, adoro usar o gerúndio, pouca gente usa, dá a ideia de erro, mas só dá essa ideia a quem, não sabendo escrever ou não sabendo saber, que ainda é mais grave, é um erro, e agora estou a confundir quem me lê por não estar a acompanhar esta barafunda de, ora aqui está outra palavra bonita, barafunda, gosto, não sei bem por que razão, até porque, escrita, não é lá muito bonita, e dita também não é linda, mas é o que é, gosto da palavra, não tenho de arranjar uma justificação lógica para gostar dela, ou tenho?, como se o amor, oh não, lá vem ele falar de amor, não, não vou, porque agora emperrei, aqui está outra palavra gira, ou melhor, outra conjugação de uma palavra gira, emperrar, numa interjeição, é oh não ou ó não?, ou tem vírgula lá no meio?, eu acho que tem, mas não a usei, também não a vou usar agora, que já foi numa linha passada, perceberam a graça?, uau, muito giro, avançando, não saindo do lugar, a verdade é que gostaria, vamos manter gostaria, sim, de ser organizado, de ter a minha vida arrumadinha, as minhas meias, os meus apetites, as minhas palavras, os meus ódios, tudo ajeitadinho num degradê de cores, da mais escura para a mais clara, como se fosse uma mensagem subliminar para os fios condutores, possivelmente eléctricos, da minha vida, olhem lá, oh seus mandriões, ou ó seus mandriões, clareiem-me a vida, se fazem favor, ora aqui está outra conjugação bonita, estou cansado comigo. Tenho de aceitar, eu sei que tenho, eu juro que tento, mas não consigo.

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representação do engano

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Sempre nos queixámos da falta de sinceridade e da constante representação do engano levada a palco pelos nossos políticos. Quando nos aparece um que diz tudo sem joguinhos de palavras – concorde-se ou não com o conteúdo, não é isso que estou aqui a discutir -, nós ficamos muito ofendidinhos porque ele é demasiado directo, porque ele é demasiado aberto, porque ele elogia ideias dos adversários, porque ele admite erros, porque ele sorri, porque ele explica e porque ele não tem postura de político. Condenamos o fingimento e o engano, mas não sabemos, nem queremos, viver sem eles. É isto, não é?

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doença de domingo à noite

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Gosto de assistir ao processo de desenvolvimento de doença mental dos canais generalistas ao domingo à noite. Na RTP1, há uma banalidade do génio. Todos são incríveis, e ai como é difícil ter de escolher um para não ir à final, porque até me arrepiei com o teu sublime, que não é interpretar nem saber dizer as palavras, é só gritar e ter as unhas pintadas. Na SIC, há a imposição do medo por um chef prepotente que grita e manda e insulta e destrói, e só assim sabe ser porque só assim é que se vai a algum lado, o mundo é fodido e por isso temos de ser fodidos com o mundo, não há cá boa educação para ninguém, só demonstração de força, que é só a completa ilustração da ausência de força. E de amor. Na TVI, o elogio da mediocridade, os holofotes no reles e na acefalia colectiva, votem em mim que eu quero ser famoso, e a fama dá-me tudo, e eu sou tudo porque apareço, se desapareço, não sou, e obrigado aos portugueses lá em casa que votaram em mim, sem eles não sou nada. E não é mesmo. Tenho de ir dormir, que isto faz-me mal aos olhos.

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adeus tristeza, e eu chorei

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Adeus tristeza, e eu chorei. Só parei de chorar muito tempo depois de ele ter parado de cantar. O Fernando Tordo veio a Leiria. Veio, também, como sempre vem quando o Fernando vem, o Ary. E eu ali, a lembrar histórias de canções que não vivi, mas que sempre fizeram parte do que fui sendo. Mesmo antes de ser. Eu ainda não existia, e sinto que já ouvia a poesia na melodia das canções. Lá, na Rua da Saudade, número 23, rés-do-chão direito. Esta poesia nesta melodia à desfilada no meu peito. Estas canções. Culpo o meu pai e a minha mãe, que me davam a ouvir o mais bonito que a beleza tem. Adeus tristeza, e eu sem saber se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto. Pesada e leve, secreta e pura, e eu chorei tanto.

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quem se diz de esquerda

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Quem se diz de esquerda é feito da mesma matéria de quem se diz de direita. Não apenas da mesma matéria corpórea, mas da mesma matéria de pensamento. Quem se diz de esquerda, como quem se diz de direita, só se diz do respectivo lado apenas por dizer o que já está dito por outros e não por eles. Quem se diz de esquerda, como quem se diz de direita, defende uma ideologia que não dá liberdade ao pensamento, uma cartilha que não permite ter outras ideias e comportamentos que não os inscritos nas bíblias de um e de outro lado. Quem se diz de esquerda, como quem se diz de direita, deveria pensar antes de dizer o que quer que fosse. Há tudo em todo o lado, e as boas e as más ideias não são de um lado ou de outro. As boas e as más ideias são, sempre, de um lado e de outro. Portanto, quem se diz de esquerda, como quem se diz de direita, talvez se pudesse definir melhor se não se definisse de forma tão redutora. Sem ideologias, mas com ideias – venham elas de que lado vierem.

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tenho achado graça a isto

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Foi o dia mais frio do ano, este de 1985. Pelo menos para os meus pais. Para mim, até àquele dia, este, de 1985, também foi o mais frio do ano e de sempre. E também o mais quente. E o mais ameno, também. Foi o meu primeiro dia. Passados alguns, os meus tios, o meu pai e a minha avó foram buscar-me nesta alcofa vermelha com uma botija de água quente. Passaram 13.514 dias (sim, pedi ajuda ao meu irmão para fazer as contas), e aqui estou eu a escrever um texto no Instagram semelhante a todos os outros que escrevo neste dia para, por um lado, escrever – uma coisa que eu até adoro – e receber alguns miminhos de pessoas que, muitas delas, só estão a fazer um scroll infinito no Instagram e deram de caras com esta alcofa vermelha de bebé e acharam graça. Eu tenho achado graça a isto desde aquele dia frio de 1985. Não sei bem porquê. Mas desconfio de que o cogumelo bordado na alcofa seja uma pista.

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no próximo primeiro dia

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O primeiro dia do ano é sempre um jogo em modo Hard. Qualquer coisinha tem de ser especial porque é a primeira coisinha do ano e vai condicionar todas as outras coisinhas que se seguem ao longo da vida – que é até ao próximo primeiro dia do ano. Vou sair pelo lado direito da cama, assim viro-me para a janela, abro o estore (não, não é estoro) e recebo logo a luz da manhã – vou fazer sempre isto porque o sol faz bem e não sei quê. Roupa interior azul por ser tradiç… Não. Roupa preta, que é com ela que eu ando o ano inteiro e este primeiro dia tem de ser uma declaração do meu eu. Haha Desculpem. Não vou ver já as mensagens. Primeiro, tenho de falar com a minha mãe, com o meu pai e com o meu irmão. Só depois com as outras pessoas. Mas o telemóvel está mesmo aqui ao lado, vou ver, não posso, não consigo não ver, não vou ver, olá, pai, olá, mãe, olá, Pedro. Objectivo cumprido. Chupa, necessidade-de-estar-sempre-em-contacto! Acordei com esta música na cabeça, vou ter de a ouvir, vai ter de ser a primeira. Mas estou à mesa para tomar o pequeno-almoço e o comando da televisão está mesmo aqui ao lado. Preciso de pensar no Ghandi para resistir ao poder imperialista da falsa necessidade (mais uma) de companhia televisiva. Volto ao quarto e oiço a música que queria ouvir. Mais um checkpoint. Gravação automática do jogo. E, agora, o pequeno-almoço? O que comer hoje vou comer todos os dias do ano, tem de ser, tenho de criar uma regra, desta é que é. Feito. Vou ao banho. Água fria, claro. Diz que faz bem e eu quero coisas que me façam bem, é hoje que eu vou iniciar o Reich de Mil Anos do Banho de Água Fria. Claro que é. Game over. Try again. No próximo primeiro dia do ano. 

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metáfora bonita da minha vida

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Hoje fui ao ginásio. Mas não fui, porque estava fechado. Metáfora bonita da minha vida, esta. Ando eu o ano inteiro em luta com a necessidade de sair da zona de conforto para, quando a consigo vencer – ou quando lhe consigo ceder, dependendo do ponto de vista -, olha, afinal não era preciso, desculpa lá o incómodo. Ridículo, isto. Tanto isto de eu não ter confirmado os horários do ginásio, como isto da necessidade de sair da zona de conforto. Que necessidade? Qual é a ideia? Ir para uma zona de desconforto? Porquê? Eu quero estar bem, quero estar confortável, portanto, quero estar – rufem os tambores para esta bomba nuclear ao nível da lógica – na minha zona de conforto. Ai, mas eu gosto é de estar na minha zona de desconforto, diz um iluminado do poder do agora e das terapêuticas do caralhinho. Não, não gostas, digo eu. Primeiro, porque é uma contradição linguística que eu não vou estar a dissecar por ser demasiado óbvia. Ok, vou dissecar, adoro dissecar o óbvio: se gostas de desconforto, é porque te sentes confortável com isso. Portanto, essa tal tua zona de desconforto passou a ser zona de conforto a partir do momento em que gostas dela. Segundo, porque é ridículo uma pessoa sentir-se bem sentindo-se mal. Pronto, é isto. Vou para casa. Mentira, já estou em casa. A foto é em minha casa. Ia agora fazer uma dissertação sobre o conforto com uma mochila ao ombro, todo desconfortável? Era o que faltava. Isso e vontade.

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cultura nesta terra linda

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O Jornal de Leiria insiste em dar-me voz. (Não entendo.) Desta vez, usei-a para escolher, sabiamente, a Personalidade e o Acontecimento de 2021 na área da Cultura nesta terra linda que é Portugal.

Acontecimento do Ano:

O lançamento da Lotaria do Património Cultural foi, sem dúvida, o acontecimento do ano. É certo que a Cultura não está bem, mas, sem esta raspadinha, é certo que estaria muito pior. É por isso que condeno, com bastante veemência (que é assim que eu gosto de condenar), quem diz que esta raspadinha é uma forma de deixar a Cultura à sua sorte. Nada mais errado. Está escrito na sua definição: “jogos de azar”. Nem a sorte nem a Cultura têm nada que ver com isto.

Personalidade do Ano:

Uma que são duas. Uma dupla personalidade, portanto. Uma que adora a Cultura, mas que prefere a Primark. Uma que critica o encerramento das salas de teatro, mas que nunca se sentou numa plateia. Uma que chora a morte de um escritor, mas que nunca leu um livro seu. Uma que acha que um músico merece receber mais, mas que prefere pagar-lhe em likes. Uma que vai para a rua gritar, mas só se a rua for o Instagram. Uma que fecha museus, mas que abre igrejas. Uma que se lamenta ao microfone, mas que só dá o microfone à bola. Uma dupla personalidade, portanto. E com tão pouco lá dentro.

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uma canção que não existe

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O meu pai está sempre a cantar uma canção que não existe. Faz aquele murmúrio sem palavras e sem direcção ao chegar de algum lugar ou, não chegando, estando nalgum que o faça cantar, não cantando. O meu pai canta essa canção que, mesmo não sabendo qual é, não poderia ser outra. Se ele soubesse, se eu soubesse, deixaria de ser a canção que o meu pai está sempre a cantar para ser uma canção qualquer, uma canção vulgar. Na verdade, a canção existe e é a que ele quer, mas só naquele lugar desconhecido que faz do meu pai, sempre depois de eu o ter ouvido, um homem que é tudo menos triste. E não é só por eu o ouvir. É por ele sentir que é mesmo feliz. E canta essa felicidade. Mesmo não sabendo de onde vem nem a sua definição. O meu pai é esse murmúrio que ele tem, e eu sinto-me sendo a sua canção.

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não sendo imortal

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Sendo o universo infinito, sendo ele tudo isto, quando eu morrer, quando eu deixar de ser, não morrerei nem deixarei, direi que existo. Porque, nesse momento, tudo o que eu sou irá para algum lugar. Mesmo não dizendo nem sabendo se vou, vou lá estar. Não existe lugar nenhum – assumindo que tudo é permanente. Portanto, serei um que será tanta gente. Serei assim, igual – este conflito. Mesmo não sendo imortal, sou infinito.

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ensaio sobre a despedida

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O Jardim das Cerejeiras, de Tchekhov, é um ensaio sobre a despedida. Tudo o que está em palco, que é cenário e que é personagem, está a dizer adeus. Tudo diz adeus a tudo. A personagens, a lugares e a si mesmo. E a peça mais não é do que esse processo de abandono, de partida. Diz-se adeus a uma casa, a um jardim, a uma terra, a um armário, a dinheiro, mas também se diz adeus a uma governanta, a um mordomo, a uma família, a um amor e, dizendo adeus a tudo isto, diz-se adeus à memória. E o regresso que é gatilho desta peça para esta despedida é mais doloroso por um outro adeus que ainda custa a dizer – por não se saber dizer, o adeus a um filho, que vai existindo como um ruído de fundo que vai encaminhando o mundo de cada um para um fim esperado. Há crítica social, lutas de classes, futilidade cultural e outras irrelevâncias que, claro, pouco importam para isto. Esta peça é sobre despedida e sobre o doloroso dever de a viver. Entre poucas dolorosas interpretações – pedinchando dinheiro e desfilando espingardas, sobressaíram as de quem já anda nisto há uma vida e as de quem, não andando, parece que sim. Felizmente, há actores que estão e que conseguem ser aquilo que querem parecer, sendo aquilo que o teatro deve ser, vida. Mesmo sendo, tantas vezes, um ensaio sobre a despedida.

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parou, deixou de ser

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Fui ver uma peça de teatro, mas não a vi até ao fim. Um actor sentiu-se mal, e a peça acabou. O actor está melhor, e o personagem parou, deixou de ser. Perdeu, naquele momento, o coração que lhe dava vida além do guião, o actor. E ele, o personagem, sem órgão muscular, vai estando com a vida parada até à vida do actor voltar. É um gesto de amor dar a vida para que outra exista também. E o actor lá vai existindo sem saber bem qual é a sua. Representa uma e outra ou não representa nenhuma? Alguma delas é assim tão nua que dispense representação? Ou são as duas, despidas ou vestidas, que fazem delas o que elas são e do trabalho do actor um trabalho em vão? Para mim, ver uma peça de teatro é ver a duplicar. É ver actor e personagem cada um na sua vida, e ficar sempre sem saber se uma despedida impede alguma vida de voltar.

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